Não é difícil perceber que há duas visões políticas dominantes no País. Uma é a que está no poder, do PT, centralizada no presidente Luiz Inácio Lula da Silva e apoiada na extrema popularidade dele. A outra é a oposição primordial, comandada pelo PSDB e personalizada no governador de São Paulo, José Serra, potencial candidato à presidência da República na eleição do ano que vem.

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Em torno dos planos filosóficos (e fisiológicos) dos petistas e dos tucanos, vão se arranjando todas as outras forças políticas do País. Com Lula e o PT, estão os principais partidos de esquerda, como PCdoB, PSB e PDT, as siglas que adoram estar no poder, como grande parte do PMDB, PTB e PR, e o partido ligado à Igreja Universal, o PRB. Quase todos os ministros e funcionários de segundo escalão são destes partidos.

Com Serra e o PSDB, andam os outros dois principais partidos de oposição, o DEM e o PPS. Também alguns setores do PMDB (notadamente o senador pernambucano Jarbas Vasconcellos e o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia) e outras siglas menores estão alinhadas com os tucanos – e nada impede que quem hoje é lulista mude de lado caso José Serra vença a eleição no ano que vem.

Se há uma terceira via, ela é identificada na potencial união entre PV e PSOL, com a senadora Marina Silva (PV-AC) sendo a candidata à presidência. Mas, até segunda ordem, é um grupo de oposição que ainda não tem tamanho suficiente para mexer com a política brasileira.

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Isso reforça a polarização do País. Que ficou evidente nos últimos dias – e infelizmente com duas tragédias brasileiras. Primeiro, aconteceu o “apagão”, o blecaute que afetou dezoito estados e que gerou uma série de reclamações à gestão energética do governo federal. A oposição aproveitou para fazer críticas, enquanto os defensores de Lula denunciavam a forma como o assunto foi tratado pelos políticos “do outro lado” e da imprensa.

Esta, inclusive, é uma posição várias vezes externada pelo presidente Lula e pelos seus auxiliares diretos. Para eles, a imprensa é “do contra”, aproveitando qualquer situação para criticar o governo federal – por tabela, prejudicando a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à presidência.

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No fim da semana, entretanto, os papéis se inverteram. O desabamento de parte da obra do Rodoanel, na noite de sexta-feira da semana passada, atingindo dois carros e um caminhão na rodovia Régis Bittencourt, entre São Paulo e Curitiba, detonou uma série de críticas ao governador José Serra. Aqueles que reclamaram muito do uso político do apagão foram os primeiros a tratar da tragédia como um fracasso de Serra e do PSDB – o que impediria, portanto, o partido e o político de chegarem ao Palácio do Planalto. É interessante que os dois lados fazem o mesmo jogo, mas condenando quando os rivais adotam a tática. É só ouvir os políticos nas entrevistas, os jornalistas que se posicionam categoricamente ao lado de um ou de outro, e os blogueiros e twitteiros que repercutem suas opiniões pela internet.

A visão peculiar dos dois pólos da política brasileira precisa ser sempre muito bem avaliada. A imprensa é a responsável por tratar de todos os assuntos, seja do governo federal, seja do governo de São Paulo, com profunda isenção. No momento em que os temas importantes são relatados com fidelidade, a população tem a possibilidade de entender realmente o que está acontecendo.

E os eleitores passam a ter o poder que sempre tiveram. Serão eles, e não os políticos, os analistas ou os jornalistas, os verdadeiros julgadores dos acertos e erros de tucanos e petistas no poder. E será no dia 3 de outubro de 2010 o dia da verdade.