Cada vez mais se depreende que a política não tem uma verdade absoluta. Ela é reagente, convive com as circunstâncias e com as coerências (e incoerências) do momento. É a “verdade do instante”, que pode ser de um jeito hoje e poderá ser completamente diferente no dia seguinte.

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Vamos usar nosso microcosmo, a política paranaense. Há cerca de dois meses, o governador Roberto Requião (PMDB), um dos protagonistas da eleição do ano que vem, estava muito perto de um acordo com o PT. Faltava apenas a aceitação do nome do senador Osmar Dias (PDT) como candidato ao governo do Estado. De resto, as conversas entre as seções locais do PMDB, do PT e do PDT estavam adiantadas, os deputados pedetistas começavam a reduzir o tom das críticas ao governo estadual e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dera seu aval à aliança.

Com isso, o PSDB já se preparava para perder um grande aliado, mas não dava mostras de que estava ressentido. Tanto PDT quanto PMDB tinham quadros querendo a aliança com os tucanos, mas a vida corria daquele jeito. A definição estava entre o prefeito de Curitiba, Beto Richa, e o senador Alvaro Dias – um deles seria o candidato do partido ao Palácio Iguaçu.

Pois bem. As coisas mudam. E bastante. Durante a semana, já se especulava que PT, PDT, PR e PP estavam com uma chapa para a eleição majoritária bastante adiantada – Osmar candidato ao governo com a vice ocupada pelo PR; Gleisi Hoffmann (PT) e o deputado federal Ricardo Barros (PP) postulantes ao Senado.

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O presidente do DEM local, deputado federal Abelardo Lupion, foi questionado publicamente por correligionários sobre sua insistência em buscar a aliança com Osmar Dias. A maioria dos democratas quer estar ao lado do PSDB ano que vem – de preferência, com Beto Richa candidato.

E, ontem, surge outra novidade, na matéria dos repórteres Roger Pereira e Elizabete Castro em O Estado: “Uma candidatura a vice-governador, exclusividade para o governador Roberto Requião na disputa por uma das vagas ao Senado e ainda a garantia de coligação na eleição proporcional. Estas são as bases da negociação que vem sendo feita nos bastidores entre setores do PMDB e do PSDB para unir os dois partidos na sucessão estadual do próximo ano. Os termos das conversas, admitidas na semana passada pelo prefeito de Curitiba, Beto Richa, estão longe de um consenso. Mas é grande a torcida do braço parlamentar do PMDB para que a discussão chegue a bom termo. (…) Mas o interesse é mútuo. Se conquistar o PMDB para o seu palanque, o PSDB teria o partido com o maior número de prefeitos e vereadores do Estado, considerado cabos eleitorais imprescindíveis na campanha para o governo e também à sucessão presidencial”.

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A negociação não é uma unanimidade nem dentro do PSDB nem dentro do PMDB. Há atritos irremediáveis entre os partidos, quase todos eles ligados a Roberto Requião, que nunca se preocupou em cativar aliados, e sim esperou o aconchego da bajulação alheia. Mas é impossível dizer que uma coligação tão bombástica como essa não vai acontecer, porque na política tudo é possível – vide a improvável unidade entre Lula e os ex-presidentes da República e hoje senadores Fernando Collor de Mello (PTB-AL) e José Sarney (PMDB-AP).

Mas, acima de tudo, esta é a verdade do instante. É bom lembrar que o deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), ponta-de-lança de Requião na Assembleia Legislativa do Paraná, esteve com Beto Richa e o governador de São Paulo José Serra (PSDB) na semana passada. Se lá esteve, é porque o governador Requião sabia e dera o seu aval.

Agora, se o que se trata hoje será realidade em 2010, é uma outra história. Por tudo que se vê e se fala, o melhor é aguardar as “cenas dos próximos capítulos”. Mas lembrando que cada cena compõe este teatro dos bastidores eleitorais.