A terceira via

Honduras vive um impasse. De um lado, os golpistas liderados por Roberto Micheletti. Empunhando a bandeira da moralidade e da justiça, derrubaram o governo constitucional, promoveram a censura à imprensa e levaram o país da América Central a uma crise institucional sem precedentes. E, sem sombra de dúvida, uma ameaça para a paz no continente americano.

De outro, o presidente deposto Manuel Zelaya. Histriônico, fanfarrão e um fiel seguidor da bobajada bolivariana de Hugo Chávez, ele alega ter sido derrubado por estar atrapalhando a vida das elites. Tentava criar um projeto de poder semelhante ao do seu ídolo Chávez. Mesmo assim, é o presidente de direito, e deveria estar comandando o país do palácio presidencial em Tegucigalpa, e não cerrado na embaixada do Brasil na capital hondurenha.

Em volta deles, gente de todo tipo. Micheletti é apoiado por vários setores da sociedade civil, que não conseguem ver Zelaya de novo no poder – temem, dizem, a “esquerdização” de Honduras.

Zelaya tem grande parte da população a seu favor, além da natural reação dos países democráticos, que querem a retomada do processo eleitoral (que seria encerrado em novembro). Mas também conta com a “liga bolivariana” de Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, uma trinca que não colabora em nada com as tratativas de paz.

No meio desta confusão toda, está o Brasil, protagonista involuntário (?) da história ao ter o presidente deposto aboletado em sua (nossa) embaixada. Também estão países que ainda não se posicionaram com clareza sobre o assunto, como os Estados Unidos – há quem diga que uma manifestação firme do presidente Barack Obama, ainda mais depois de ganhar o prêmio Nobel da Paz, pode acabar com a revolta hondurenha e reconduzir Manuel Zelaya à presidência.

Também está no meio do fogo cruzado – sim, porque até agora nenhuma negociação entre os dois lados da crise chegou a prosperar – a Organização dos Estados Americanos (OEA). E foi da entidade que partiu a posição mais surpreendente. E, talvez, mais racional. Foi um dos destaques da edição de domingo passado de O Estado: “O assessor do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) para Honduras, John Biehl, revelou que o órgão tem pesquisas de opinião que revelam que a maioria dos hondurenhos está de acordo com uma “terceira opção’ – que não seja o presidente de fato Roberto Micheletti ou o presidente deposto Manuel Zelaya -, a favor de um governo de reconciliação e de unidade nacional para solucionar a crise, segundo informa a mídia hondurenha. (…) Segundo ele, as pesquisas, cujos resultados serão tornados públicos no futuro, também revelam que os hondurenhos querem uma solução imediata e pacífica para a crise”.

É a situação mais plausível – no momento em que os dois lados não aceitam composições, que surja uma pessoa no cenário da crise que consiga catalisar os ânimos acirrados e realizar uma coalizão de verdade, sem manobras de bastidores. Para isso acontecer, é preciso que tanto Zelaya, quanto Micheletti, que são os pretensos líderes de seus grupos (há quem diga que o presidente deposto é guiado por Hugo Chávez; e que o líder golpista é apenas um “fantoche”), e seus aliados percebam que é o futuro do país deles que está em jogo, e não apenas uma definição de quem é e quem não é presidente.

Só que, para isso, os dois lados precisam pensar no povo hondurenho. Que é justamente o prejudicado pela crise institucional do país. Certamente, o resultado de uma composição não agradará totalmente nem Roberto Micheletti, muito menos Manuel Zelaya. Mas deverá ser, da forma como as coisas andam, a única salvação de Honduras.