A razão papal

O ser humano deve ter o contato com outros seres humanos para evoluir e se socializar. Nada substitui o contato físico. O afeto, o amor o respeito e os demais sentimentos necessários para o perfeito desenvolvimento são melhor transmitidos em curta distância e, geralmente, não dispensam o tato. Os relacionamentos fixam as bases da sociedade saudável, desde o interior do seu núcleo mais simples, formado pela família, até o mais complexo, representado pelas cidades, estados e nações.

Pena que o mundo moderno afaste as pessoas de práticas tão salutares para uma vida feliz. A violência das ruas transforma a casa em refúgio. O medo e a preguiça fazem crer que o melhor caminho é trocar recados por e-mail ou através de programas de bate-papo. Os encontros e reuniões entre amigos ou familiares para que as fotos da viagem de férias sejam mostradas não acontecem mais com tanto frequência. O dia a dia de todos está exposto na internet, em sites onde é possível colocar numa mesma sala virtual parentes, amigos, conhecidos e quase desconhecidos.

Tudo bem, a tecnologia é algo admirável e faz quilômetros sumirem em um clique. Mas a vida dentro de um quarto diante de uma tela de computador não tem sentido e também não elimina riscos. A navegação sem objetivos claros de buscar informação e entretenimento sadio é pior que um beco escuro no centro de grandes cidades. Os benefícios da internet só são válidos para quem conhece boas rotas e está munido de boas intenções.

O papa Bento XVI foi preciso na abordagem do assunto ao expressar sua aprovação condicional às redes sociais. O sumo pontífice rendeu elogios ao potencial dos sites, mas alertou que amizades online não servem como substituto para contato humano real. As opiniões foram dadas através da mensagem intitulada “Verdade, proclamação e autenticidade da vida na era digital” e alertaram para os riscos de despersonalização, alienação, falta de autocrítica e sobre o perigo de ter mais amigos virtuais que reais.

No Dia Mundial da Comunicação da Igreja Católica, comemorado ontem, o papa pediu aos usuários de redes sociais para se perguntarem quem são seus vizinhos nesse novo mundo e para que evitem a disponibilidade permanente ao ambiente online acompanhada da menor presença diante daqueles a quem se encontra na nossa vida cotidiana. A resposta às questões propostas pelo pontífice serve para se fazer uma análise de comportamento essencial, que pode revelar a exacerbação do individualismo e do egocentrismo prejudiciais para o aperfeiçoamento humano.

Os conselhos papais são importantes e estão alinhados com a atualidade. Trechos revelam a profundidade de sua preocupação, que deve ser a preocupação de todos: “Os vastos horizontes das novas mídias exigem urgentemente uma séria reflexão sobre a importância da comunicação na era digital”; “Entrar no ciberespaço pode ser sinal de uma busca autêntica de encontros pessoais com os outros, desde que as pessoas fiquem atentas e evitem perigos como o de se encerrarem em uma espécie de existência paralela, ou de exposição excessiva ao mundo virtual”; e “Na busca de compartilhamento, de “amigos’, há o desafio de ser autêntico e fiel, e de não ceder à ilusão de construir um perfil público artificial”.

Os ensinamentos merecem ser colocados em discussão. Refletir agora para não colher problemas no amanhã vale a pena. O papa apenas iniciou o tema.