“O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou ontem que, caso o Congresso aprove os projetos de lei relativos à exploração de petróleo na região do pré-sal até novembro, os primeiros leilões dos blocos na área deverão acontecer já no primeiro semestre de 2010. A informação foi dada em entrevista, em Brasília, durante o Seminário “O pré-sal e o futuro do Brasil’. (…) Em relação à estrutura a ser montada para exploração do pré-sal, Lobão afirmou que existe capacidade para implantação pela indústria nacional. “Os empresários só precisam de recursos para montar as suas obras’, disse. Ele chegou a falar em uma “verdadeira revolução’ no setor de equipamentos, com investimentos que chegariam a centenas de bilhões de reais para a produção de, por exemplo, navios e sondas”.

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Presente ao seminário em Brasília, o repórter Hélio Miguel descreveu as reações do ministro e transcreveu, na edição de quinta-feira de O Estado,o estilo eufórico de Edison Lobão ao falar do petróleo da camada pré-sal, a grande descoberta petrolífera do planeta nos últimos anos e a maior plataforma política e econômica dos dois últimos anos de governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Após a confirmação de existência de petróleo na camada abaixo do sal no mar de São Paulo, a Petrobras festejou e Lula partiu para o ataque. Afirmando que era a grande notícia de seu governo, transformou o pré-sal em solução para todos os males. Falta dinheiro para a educação? O pré-sal resolve. Faltam hospitais? O pré-sal resolve. A gripe suína preocupa? O pré-sal resolve. O trânsito está ruim? O pré-sal resolve.

É verdade que, quando retirado do fundo do mar, o petróleo vai se tornar uma das grandes fontes de renda do Brasil. Mudará o perfil do País junto às grandes nações – além das já notórias qualidades brasileiras, estaremos pisando no acelerador enquanto as potências pisam no freio. Seremos grandes produtores petrolíferos, teremos mais dinheiro para tudo, realmente teremos chances de resolver problemas históricos, desde que tudo que se promete seja cumprido.

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Mas, para isso, é necessário trabalhar. Não será somente com o discurso e a dialética peculiar do presidente Lula que o petróleo do pré-sal explodirá nas plataformas da Petrobras. Da forma como ele e seus auxiliares diretos (além do ministro Edison Lobão, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à presidência da República) tratam o assunto, é tudo muito simples. E nada é simples na operação de extração de petróleo, ainda mais em águas tão profundas.

Talvez por isso a pressa do pré-sal. A medida provisória encaminhada para o Congresso Nacional em regime de urgência irritou os partidos de oposição, que obstruíram as votações até conseguirem a retirada da urgência. E há justificativas que passam a simples birra de quem não é governo: o assunto precisa ser discutido com profundidade, há a divisão dos royalties , as regras para os leilões dos blocos e própria situação do regime de partilha, que precisa ser explicado para a sociedade. E é preciso deixar bem claro que o País vai ganhar, e não possíveis aproveitadores e atravessadores loucos para lucrar com esta gigantesca área de exploração.

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Não é necessário correr desesperadamente. O petróleo do pré-sal não é do presidente Lula, não é dos ministros, não é da Petrobras. Como dizia o velho bordão, o petróleo é nosso. E temos que saber, o mais detalhadamente possível, o que vão fazer com uma das riquezas de nosso País – ainda mais quando se alardeia, como o governo federal faz, que lá estão as soluções para os dramas recorrentes do Brasil. É nosso direito saber.