Vamos pensar juntos: saem de Curitiba no mesmo voo o governador do Estado, o presidente da Assembleia Legislativa e o presidente do Tribunal de Contras do Estado (TCE). Os dois últimos acompanham o nosso principal líder político – pelo cargo que ocupa – para um importante encontro com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Os assuntos a serem tratados precisam ser de grande importância, certo? Afinal, a reunião de tão graduados cidadãos, em horário de trabalho, precisa ser calcada em temas que interessem a população paranaense. Não deveria ser assim?

continua após a publicidade

Pois não é. Roberto Requião (PMDB) tinha que tratar da vida dele, e aí montou uma comitiva para acompanhá-lo, como relatou a repórter Elizabete Castro na edição de ontem de O Estado: “O governador Roberto Requião conversou com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, sobre a nomeação do irmão, Maurício Requião, para o cargo de conselheiro do TCE. Ele também aproveitou o encontro para discutir as restrições que a Justiça, a pedido do Ministério Público Federal, impôs à sua participação no programa Escola de Governo, transmitido pela Rádio e Televisão Paraná Educativa”.

O responsável pelo bem-estar dos paranaenses se abalou até a capital federal para tratar de assuntos de “caseiros”. Sim, porque a decisão se Maurício Requião, o “primeiro-irmão”, até há pouco secretário da Educação, vai ou não assumir seu posto no TCE interessa mais à família do que aos paranaenses. É de uma petulância gigantesca tratar disso com o presidente do STF. Como teria falado o governador? Será que foi assim: “Ministro, meu irmão precisa de um cargo. Como vou fazer isso com essa Súmula Vinculante 13 no meu encalço? Quebra essa para mim, Gilmar!”?

A decisão de emplacar Maurício como conselheiro do TCE – que, é sempre bom registrar, é um dos órgãos mais importantes dentro da estrutura dos três poderes – veio depois da proibição do nepotismo no serviço público. Sem ter onde colocar tantos parentes, o governador decidiu espalhá-los onde podia, chegando a “inventar” cargos, como para outro irmão, Eduardo Requião, que é secretário de Estado (nomeação política pode), apesar de morar em Brasília e comandar um gabinete.

continua após a publicidade

Como houve reação política e social à indicação de Maurício ao Tribunal de Contas, ele acabou apeado do cargo – e quando imaginava, durante a semana, que iria conseguir voltar ao TCE, teve seu desejo refreado doze horas depois da decisão favorável. Agora, o governador quer acabar com a história, desde que (claro) termine com o irmão investido do cargo de conselheiro.

Não contente, ainda foi falar da decisão da Justiça Federal, que restringe a reunião semanal da Escola de Governo aos atos do poder público, impedindo que Requião use as emissoras de rádio e televisão estatais para atender seus próprios objetivos – geralmente atacar seus adversários políticos e usar de grosseria contra todos e qualquer um que se atreva a contestá-lo. Foi, portanto, um encontro recheado de despropósitos, que teve como interesse básico as vontades do governador.

continua após a publicidade

E para ver como são as coisas, Requião foi pedir socorro a um dos personagens mais polêmicos do País. O ministro Gilmar Mendes é desafeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – e mesmo tão próximo de Lula, o governador do Paraná, preocupado apenas em si, não teve dúvidas em apelar para Mendes. Este, que já tem possíveis relações questionáveis, adicionou mais um figurão em sua lista. A foto que ilustra o texto de Elizabete Castro mostra os dois sorrindo, uma cena surpreendente e estranha.

Para fechar, outro trecho da matéria de O Estado: “Requião está farto das idas e vindas da Justiça no caso”. E o Paraná está farto de ver os interesses pessoais passando por cima do interesse público.