A grande responsabilidade

O ano legislativo começa terça-feira. Novos deputados tomam posse na Assembleia, o Congresso se renova, temas pendentes estão para ser resolvidos. Renova-se também a expectativa da sociedade de que os novos parlamentares desatem nós que amarram nossos progressos político, econômico e social. O Brasil avançou nos últimos anos, mas ainda há muito pela frente. Estamos longe do ideal e não chegaremos de uma hora para outra. Não é tarefa de um dia, mas decisões necessárias não podem ser adiadas. Os políticos foram eleitos para dar respostas à nação, em cargos do Executivo ou do Legislativo.

Amanhã, o País também registra uma data histórica. Em 31 de janeiro de 1961, há 50 anos, o ex-governador de São Paulo, Jânio Quadros, tomava posse na presidência da República, ancorado numa votação arrasadora. Ele tinha o compromisso de acabar com a corrupção. Em poucos meses, Jânio tomou decisões fortes para conter gastos públicos e outras medidas polêmicas, como proibir o biquíni na TV e o lança-perfume nos bailes de Carnaval, além de regulamentar o jogo de carteado.

Em agosto do mesmo ano, Jânio alegou que “forças terríveis se levantaram contra mim”, pediu o chapéu e foi para casa. A esperança depositada nele foi para o lixo. Ele deixou o País para João Goulart, um vice mal assimilado pelas oligarquias dominantes. Os três anos seguintes foram tensos e convulsos. O País entrou no parlamentarismo, saiu para o presidencialismo e em 1.º de abril de 1964 caiu numa ditadura militar que terminou vinte anos e cinco generais presidentes depois. Um descaminho que começou no dia em que um homem virou as costas para a sua grande responsabilidade. O arquiteto do sonho se transformou no engenheiro do pesadelo.

O fim da ditadura não foi seguido por um período alvissareiro. A condução de José Sarney ao Palácio do Planalto decepcionou. Era fiel escudeiro do regime militar e estava longe de ser o mais brilhante adulador dos generais. Cinco anos depois Sarney deixou um caos econômico e ambiente político marcado pela corrupção. O sucessor, Fernando Collor, foi outro que engabelou com a promessa de acabar com a corrupção. Ele deixou o Planalto escorraçado, acusado de praticá-la.

Os dezesseis anos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva foram de avanços econômicos e sociais, embora a erva daninha da corrupção estivesse presente. É preciso dizer que ela corrói a energia que o Brasil necessita para chegar ao destino histórico de nação desenvolvida? Não. Nesta semana, quando os legislativos se renovarem, surge mais uma vez a esperança de a luta contra a corrupção ser levada a sério. Que os novos políticos e os reeleitos demonstrem pertencer a uma nova estirpe necessária para o País botar os pés em seu almejado futuro promissor e não tenha suas energias devoradas por hienas sem compromisso ético.

Que pensem, antes: dentro de quatro anos terão de prestar contas aos eleitores. Que pensem: não entraram para um clube de privilegiados bem remunerados. Que saibam: os primeiros passos podem ser importantes para determinar se serão fracasso – ou não. Se serão grandes homens públicos, ou mais alguns insignificantes cuja existência em nada acrescenta para a coletividade. Não importa onde estejam, assim como houve ascensão, pode haver queda. O prato que comerão no futuro começa a ser feito na próxima semana. Eles são os guardiões da esperança do povo, mas também os cozinheiros de seus próprios destinos.

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