Às vezes, é na adversidade que surge uma grande ideia. Preocupados com a queda vertiginosa das vendas ao consumidor final, os economistas do governo federal não sabiam mais o que fazer. Era necessária alguma atitude que mantivesse as vendas aquecidas – sim, pois é um efeito cascata e um círculo vicioso ao mesmo tempo, que movimenta as lojas, mantém os empregos e as compras, assim garantindo a vida da indústria, que não demite funcionários e não os tira poder aquisitivo.

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Mas como fazer isso? Alguém teve a ideia – e geralmente a posteridade não é favorável aos autores das melhores ideias. Por que não se reduzir impostos? A sugestão, simplória e complexa ao mesmo tempo, foi melhor burilada e chegou-se a uma decisão: o governo reduziu e depois zerou a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A sigla, e sua explicação, que eram pouco ou nada conhecidas do grande público, viraram a salvação da indústria e do comércio.

Ontem terminou oficialmente a festa. O repórter Hélio Miguel, na edição de quarta-feira de O Estado, resumiu o impacto da redução do IPI: “Se, durante os nove primeiros meses em que vigorou a redução, as vendas no máximo foram mantidas em relação aos mesmos meses do ano anterior, em setembro a corrida às lojas deixou os vendedores satisfeitos. Na comparação com os oito primeiros meses do ano passado, as vendas de automóveis entre janeiro e agosto, este ano, foram 3,32% menores. Apenas os meses de março e junho, até agora, superaram os mesmos meses de 2008. (…) Conforme o advogado tributarista Gilson Faust, da Pactum Consultoria Empresarial, o aquecimento nas vendas de carros prova, na prática, que a desoneração tributária é um bom instrumento para enfrentar crises. Para ele, as medidas não causaram impacto negativo nos cofres do governo”.

É importante fazer a avaliação comparativa dos dados do IPI. Quando o governo federal anunciou a redução da alíquota, especulava-se um ano negro para o comércio e para a indústria no Brasil. Isto porque os reflexos da crise financeira internacional começaram a ficar expostos para o consumidor, que parou de comprar no final do ano. Passado o Natal, quando é natural o aumento de vendas (todos estão com o décimo-terceiro salário e aproveitam para gastar), haveria forte retração e perspectiva de pátios de indústrias lotados e mercadorias encalhadas nas lojas – de carros, de eletrodomésticos, de móveis. O saldo final seria, inexoravelmente, um aumento no desemprego. Seria difícil recuperar.

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Mas a ação rápida do governo deu fôlego para todo mundo. Quem estava se preparando para investir em um bem durável, e que seguraram o ímpeto com a crise, teve a oportunidade de aproveitar descontos. As lojas podiam até reduzir parte do lucro, pois o imposto barateava o produto e facilitava a vida dos consumidores. E as indústrias não precisariam parar.

E, se na conta geral, sem contar setembro, as vendas de carros caíram 3,32%, é porque o tombo seria ainda maior caso não houvesse ação oficial. E março, junho e agora setembro serão meses de recorde histórico de vendas, segundo os revendedores. E, com a empolgação de final de ano e a recuperação econômica do País, a leve redução do ano pode virar um honroso empate.

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Com medidas como essa, o Brasil conseguiu passar sem maiores sustos pelo vendaval financeiro internacional. Tivemos perdas, é claro, mas quem não teve? E não houve quebradeira generalizada, recessão acachapante e desemprego galopante. Terminaremos 2009 firmes, e em condições de uma retomada de crescimento bastante auspiciosa. Mesmo que a festa do IPI, que durou nove animados meses, tenha terminado.