A falta de compromisso

O Paraná está pasmo com a violência do tráfico de drogas. Sábado, no bairro Uberaba, em Curitiba, os traficantes não tiveram pena de inocentes que ousaram descumprir uma ordem dada por um carro de som, a qual proibia que as pessoas saíssem às ruas a partir das 20h. O resultado foi uma chacina inédita na capital do Estado, com oito mortos (inclusive uma criança de colo) e dois feridos por conta da fúria daqueles que se julgam mais importantes que a própria lei.

Seis dias depois, continuamos esperando ações do poder público. A Polícia Civil chegou a prender um suspeito, mas até o momento não chegou a outros personagens envolvidos na chacina. A região da Vila Icaraí, onde aconteceu a tragédia, continua sob o toque de recolher dos bandidos. Os moradores têm medo de conversar com as autoridades, pois sabem que poderão sofrer por isso – e não veem a força policial próximo deles o suficiente para encorajar possíveis denúncias.

Enquanto isso, os principais comandantes da segurança pública do Paraná seguem calados. Na terça-feira, na sua notória Escola de Governo, o governador Roberto Requião (PMDB) preferiu soltar impropérios a um pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) a comentar sobre um assunto que certamente o interessa – afinal, Requião chegou a “acumular” o governo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública nos primeiros meses de seu segundo mandato, em 2003.

E o secretário atual, Luiz Fernando Delazari, cumpre agenda burocrática nos Estados Unidos. Está por lá e ainda não fez nenhum pronunciamento sobre o assunto. Faz o contrário do que manda a “cartilha” do administrador público: em um momento como esse, o gestor se prontifica a ir ao local, manifestar no mínimo solidariedade e colocar-se à disposição das famílias das vítimas. Como qualquer governante faz – basta lembrar que até o famigerado George W. Bush foi a Nova Orleans quando da passagem do furacão Katrina. Talvez não haja possibilidade de comparar, mas seria uma atitude humana de Requião ir à Vila Icaraí para conversar com os moradores. E seria lógica a volta imediata de Delazari a Curitiba para liderar as investigações.

Mas, no Paraná as coisas não são assim. Tanto que os deputados estaduais tentam, sem sucesso, há pelo menos quatro meses convocar o secretário da Segurança para falar na Assembleia Legislativa. Quando conseguiram as assinaturas desejadas, o governo agiu de novo, como relatou na edição de ontem de O Estado a repórter Elizabete Castro: “A bancada de oposição na Assembleia Legislativa conseguiu reunir trinta e uma assinaturas para propor nova convocação do secretário da Segurança, Luiz Fernando Delazari, para falar sobre violência e criminalidade no Estado. O requerimento será votado apenas na próxima terça-feira, dia 13. O líder do governo Luiz Claudio Romanelli (PMDB) pediu para discutir a proposta e protelou a decisão para a próxima semana. (…) A liderança do governo resiste à convocação de Delazari alegando que a oposição está tentando transformar um problema estrutural da sociedade, o crescimento da violência e o tráfico de drogas, em bandeira eleitoral. “Nós não podemos permitir que isso se transforme num palanque eleitoral. Eles (a oposição) fizeram uma pesquisa e viram que 73% da população estão preocupados com a segurança e agora querem explorar essa situação’, afirmou Romanelli”.

A falta de compromisso de Delazari – e de seu chefe, Roberto Requião – é impressionante. Chega ao ponto de transtornar a cabeça de políticos como o deputado Luiz Cláudio Romanelli, que atinge o absurdo ao afirmar que segurança pública virou um assunto eleitoral. É que para os “eleitos” pelo governo, não há problemas. Quer dizer, quase, pois Romanelli, logo ele, sabe bem o que é ser vítima do crime organizado.