Na semana passada, a presidente eleita Dilma Rousseff nomeou oficialmente seus primeiros assessores. Como tratamos neste espaço há alguns dias, Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda do governo Luiz Inácio Lula da Silva, será o chefe do Gabinete Civil. Marco Aurélio Garcia, ideólogo do PT, segue como assessor direto da presidência da República. Nos últimos dias, outros nomes foram divulgados. E também foram definidos os titulares da equipe econômica: os ministros Guido Mantega (Fazenda), Miriam Belchior (Planejamento) e Alexandre Tombini (presidência do Banco Central, hoje com status de ministério).

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A mudança mais sentida é a saída do presidente do BC, Henrique Meirelles, que terminará o governo Lula sendo o brasileiro que ficou por mais tempo no comando da política econômica. A rigor, era ele o responsável por sustentar a estrutura que permitiu ao País ter segurança em suas contas internas e (principalmente) externas, inflação estável e taxas de crescimento constantes. E a sua saída é uma sinalização clara de que Dilma Rousseff e o ministro renomeado Guido Mantega querem outro direcionamento na economia.

Tanto Dilma quanto Mantega são do grupo dos “desenvolvimentistas”, que se contrapõem aos chamados “monetaristas”, como Meirelles. Entretanto, foi da combinação – por vezes tensa – entre os dois perfis que o Brasil cresceu muito nos últimos anos. Não foi à toa que o presidente Lula nunca deixou de prestigiar o presidente do BC, pois sabia da sua importância. Em momento algum cogitou trocá-lo, nem mesmo quando assessores próximos, outros ministros e até mesmo os jornalistas econômicos mais ligados ao governo (como Luís Nassif e Paulo Henrique Amorim, e também a revista Carta Capital) pediram sua cabeça em uma bandeja.

Lula não fazia nada porque não pensava na política econômica sem a dose de realismo de Henrique Meirelles. Por mais que todos no governo federal se interessassem em um crescimento “chinês”, com taxas altíssimas, o presidente do Banco Central tinha a consciência que isto seria impossível sem que a inflação subisse. E o temor dele, bastante justificável, é que a cultura inflacionária brasileira fizesse com que a roda viva dos aumentos de preços ficasse incontrolável. Daí o aumento das taxas de juros, medida impopular à primeira vista, mas necessária dentro de uma política de longo prazo.

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Ao falar de seu sucessor, Meirelles demonstrou confiança, como indicou o jornal O Estado de S. Paulo: “Henrique Meirelles afirmou que o futuro presidente da instituição financeira, Alexandre Tombini, era desde março o nome dele para sucedê-lo no cargo, caso deixasse o governo com o objetivo de se candidatar a uma função eletiva este ano. “Para mim, era o mais preparado e o melhor nome para a missão’, disse a um pequeno grupo de jornalistas”.

Esperamos que Tombini realmente seja o profissional capaz que Henrique Meirelles disse aos jornalistas na semana passada. Mas, além de ser capaz, ele precisará ter sangue frio e muita personalidade. Se mantiver a postura de seu antecessor, ele enfrentará a oposição do ministro da Fazenda e até da presidente da República – Miriam Belchior não conta. Se não tiver esta força, será engolido pelos colegas de equipe econômica. E isto pode render problemas para o Brasil, pois não é apenas gastando dinheiro que se promove o desenvolvimento de um país. É com o controle das contas, é com a redução de impostos e com a segurança da inflação em níveis baixos. Tudo isto é tarefa do ministro da Fazenda, da ministra do Planejamento e do presidente do Banco Central.

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