A entrada do PMDB

Até segunda ordem, está decidido. O PMDB vai acompanhar o PT na disputa eleitoral em 2010. Será peemedebista (e muito provavelmente o presidente da Câmara dos Deputados e presidente licenciado do partido, o deputado paulista Michel Temer) o candidato à vice-presidência na chapa liderada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A vitória é do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que desde sempre afirmou – em círculos restritos – que o Brasil é “ingovernável” sem a participação do PMDB.

Foi basicamente por isso que Lula determinou o apoio total da bancada do PT no Senado Federal ao presidente da casa, senador José Sarney (PMDB-AP), episódio que desgastou internamente e externamente o partido – acabou consumando a saída dos senadores Marina Silva (agora no PV) e Flávio Arns (agora no PSDB), provocou uma “fritura pública” do líder petista Aloizio Mercadante e transformou Eduardo Suplicy em um político de opereta, dando cartões vermelhos e correndo de sunga pelas passarelas do Congresso Nacional.

Lula sabia que tudo isto iria acontecer. Ele certamente é o político que mais preza o PT – afinal, foi o fundador da legenda, no início da década de 1980, ao lado de sindicalistas, intelectuais, ex-exilados e alguns empresários. A degradação moral do partido afeta o presidente da República mais do que imaginamos. Mesmo assim, em nome da governabilidade e do futuro político dele e de seus aliados (portanto, do futuro do PT), ele jogou todas as fichas em Sarney e segurou o presidente do Senado.

Agora chegou o momento de cobrar. Ao contrário do que se alardeia, a entrada do PMDB na barca de Dilma Rousseff é uma parte da negociação lá de trás, e não algo que permitiu aos peemedebistas barganharem muito agora. O que Lula e o PT sabem é que os agora aliados nacionais vão querer cargos, e já iniciaram a conversa com o jogo aberto, para evitar surpresas durante a corrida eleitoral.

Para Lula, o apoio é um golpe de mestre. Reforça sensivelmente sua candidata (que, além de contar com a presença física e “espiritual” do presidente, ainda recebeu minutos preciosos na televisão), mostra aos adversários – principalmente ao PSDB – que a batalha será árdua até outubro de 2010 e garante a entrada de um único nome oficial na disputa pela presidência.

Sim, porque o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) ficou praticamente isolado. Será usado pelo governo para “tumultuar” os bastidores políticos e atrapalhar a caminhada do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), por enquanto o preferido nas pesquisas de intenção de voto. Depois de agitar o coreto, Ciro será retirado da disputa e ungido candidato da aliança oficial ao governo de São Paulo – também para incomodar a vida tucana, que espera levar sem maiores traumas o ex-governador Geraldo Alckmin de volta ao Palácio dos Bandeirantes.

Tudo lindo, não é? Só falta convencer boa parte do PMDB. Se até mesmo partidários da aliança com Dilma, como o governador do Paraná, Roberto Requião, não estão gostando deste acordo enfiado goela abaixo, imagine quem é “serrista” no partido. Se alguns políticos, como os senadores Jarbas Vasconcellos (PE) e Pedro Simon (RS), já nem causam mais preocupação para a cúpula peemedebista, há um empecilho bem grande em São Paulo. Chama-se Orestes Quércia, comanda o partido no maior estado do País e está de corpo e alma ao lado de José Serra – até porque é o potencial candidato ao Senado na chapa de Alckmin. Exige, no mínimo, a independência do partido na eleição presidencial.

Um “pepinão” para ser descascado pelos comandantes do PMDB. E neste eles nem podem contar com a ajuda do presidente Lula, porque não vai adiantar nada.