A data-limite

O texto é do repórter Roger Pereira, na edição de domingo de O Estado: “O “breque’ nas alianças anunciado pelo presidente em exercício do PDT, deputado Augustinho Zucchi, e a relutância do senador Osmar Dias (PDT) em anunciar publicamente sua intenção de disputar o governo do Estado em uma coligação com o PT no ano que vem foram os principais motivos que levaram a direção estadual petista a anunciar que, apesar da preferência pela formação de uma aliança, o partido está preparado para lançar um candidato próprio ao governo. Os motivos foram destacados ontem, durante reunião do diretório estadual da legenda. A presidente estadual do partido, Gleisi Hoffmann, informou que o PT aguarda uma posição de Osmar, no máximo, até o fim do ano. A irritação do PT se deve ao fato de que Osmar teria afirmado a dirigentes do PT que anunciaria publicamente a intenção de caminhar com o PT dias antes de Zucchi informar que o PDT iria parar por um momento de discutir alianças”.

Enfim, em todo o “balé da sucessão” ao governo do Paraná na eleição de 2010, surge uma data-limite. Sempre se falou em tempo para alianças, tempo para prévias, tempo para negociações. Mas nunca tinha sido colocado um momento de ponto final nas discussões. Foi isso que o PT (em nome, provavelmente, de uma boa parte dos partidos que estão na base de sustentação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva) fez para o senador Osmar Dias.

O problema é que este é mais um ponto possível de atrito entre o PDT e o PT no Paraná. Se em Brasília as duas legendas estão bem alinhadas, aqui, no Paraná, a coisa é diferente. E tudo começou justamente quando Osmar Dias, lá em Brasília, deu um passo político que desagradou os petistas nativos. Foi a assinatura da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Osmar, como sempre faz, não fugiu da polêmica e manteve sua posição contrária às atitudes do MST, principalmente de seus líderes – que não perdem a chance de explorar os necessitados para fazer valer suas ideias retrógradas.

Mas o MST é um dos movimentos sociais mais “queridos” do PT, apesar de seus líderes criticarem Lula constantemente, dizendo que ele “se vendeu para o imperialismo”. A retórica de João Pedro Stédile é como música para os ouvidos petistas, mesmo que eles próprios saibam que não há a menor possibilidade de os planos amalucados do líder dos sem-terra se tornarem realidade. Osmar mexeu, portanto, em um vespeiro.

Depois, espertamente, o PSDB, liderado pelo prefeito de Curitiba, Beto Richa, voltou a cortejar o PDT e o próprio Osmar, criando uma situação que embaraçou o senador em seus contatos com o PT. Surgiu, inclusive, uma possibilidade de ser criada uma grande aliança que isolaria os petistas no Paraná, abrindo caminho para Beto ou Osmar saírem como vencedores desde o início da batalha. A situação ficou complicada para o senador pedetista, que está sendo acusado na surdina de estar vacilando.

O que acontece é que ele está entre dois caminhos. De um lado, com o PT, num possível caminho menos acidentado, onde seria o candidato ungido e ainda com o poderoso apoio do presidente Lula; mas, em contrapartida, teria que explicar aos seus eleitores porque se aliou com personagens que criticara até meses atrás – principalmente o MST. De outro, com PSDB, DEM e PPS, num grupo com quem ele se identifica e com quem já esteve em outras eleições; mas, talvez, tendo que abdicar do sonho de ser governador.

Osmar Dias terá que escolher. Não será fácil. Em qualquer caminho que resolva tomar será cobrado, terá que ceder e sofrerá desgaste político, em maior ou menor escala. Mas ele terá que escolher. E até o final do ano.