A camisa 10

A culpa é de Edson Arantes do Nascimento. Sim, ele mesmo, o Pelé. Com esse extraordinário atleta, a camisa 10 ganhou notoriedade, virou sinônimo de craque. Até os mais desinteressados pelo futebol sabem que facilmente se identifica o melhor jogador de uma equipe: ora, é aquele que carrega o número 10 estampado nas costas. Dele se espera muito. Principalmente lampejos de genialidade em momentos decisivos. Dele se pode cobrar, pois o resultado virá. É a pessoa capaz de influenciar de forma positiva seus pares a ponto de qualificá-los para fazer seu trabalho cada vez melhor. Oferece com sobras o bom exemplo e influencia os outros para bem. O 10 não pode faltar. Para o time alcançar o sucesso, ele tem que estar em campo. Erra o comandante que abre mão do seu camisa 10.

Como julgar então o anúncio feito pelo deputado federal e candidato a senador derrotado, diga-se de passagem que foi por muito pouco, Gustavo Fruet de que não fará parte do governo Beto Richa? Pode o novo chefe do Poder Executivo estadual ter colocado de lado umas das pessoas mais qualificadas do Brasil para assumir o cargo de secretário de Estado? Pode, ainda, o parlamentar recusar pura e simplesmente qualquer vaga que lhe tenham oferecido? Quantas questões para poucas respostas. O que resta do imbróglio é que Fruet não podia ser “escanteado”. É que a camisa 10 lhe cai muito bem e Richa não conta com ninguém no banco de reservas com a desenvoltura necessária para substituí-lo a altura. A partida é longa e o desfalque será sentido.

Desde a confirmação da eleição de Richa e a conclusão de que a campanha de Fruet, apesar do fracasso na briga pela cadeira no Senado, não foi perdida por completo – foram 2.502.805 votos em todo o Estado -, era esperado que algo compatível com a sua irrepreensível carreira política fosse ofertado. E o novo governador teria tantos outros motivos para ter o parlamentar em seu primeiro escalão, como a longa amizade, o fato de estarem no mesmo partido, o PSDB, a competência, etc, etc, etc… Era um caminho que parecia natural. Daí, então, Fruet vem a público para revelar que tem objetivos já traçados e que abre mão de fazer parte da equipe de Richa. Mas o que explica essa mudança de rumo? Uma névoa parece encobrir a realidade dos fatos.

O sinal de alerta que a relação e os planos de colaboração mútua estavam abalados veio com a saída de Eleonora Fruet da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba. Irmã e não menos competente que Gustavo, Eleonora repetiu o que fez quando o irmão se desentendeu com o então governador Roberto Requião e deixou o PMDB para ingressar no ninho tucano. Na época, ela estava à frente da Secretaria de Estado do Planejamento. Ocorre que agora, o deputado tem intenções já demonstradas de se preparar para a disputa da prefeitura da capital paranaense e isso o coloca em lado oposto ao de Richa, que sinaliza com apoio à eleição daquele que foi seu vice e hoje encabeça a gestão da cidade, o médico Luciano Ducci (PSB).

Com o prestígio que tem com os eleitores do Paraná, não faltará legenda para dar abrigo a Gustavo Fruet na briga pela prefeitura em 2012. O PMDB já adiantou o expediente e abriu as suas portas para o parlamentar. O PDT do senador Osmar Dias idem. A falta de espaço no PSDB não será empecilho para quem fez, só em Curitiba, 646.886 votos em outubro de 2010. Ou seja, além de estar prestes de perder definitivamente seu camisa 10, Richa pode entregá-lo de bandeja ao time adversário. Seria uma dupla derrota. O pior é que a coisa mais comum do futebol é ver jogador marcando gol contra seu ex-clube.