A Câmara, o povo e a praia

O deputado federal socialista Romário de Souza Faria apertou o ponto de presença na manhã de quinta-feira no Congresso em Brasília, caiu fora do parlamento, pegou o avião e aterrissou no Rio de Janeiro a tempo ir para a praia jogar futevôlei, enquanto a sessão que começou às 14 horas e terminou depois das 18h40, registrava poucos parlamentares presentes. Resumindo: Romário gazeteou e não cumpriu as funções para as quais ele foi eleito. Mas não foi só ele. Foi a maioria.

A imprensa carioca flagrou a malandragem do ex-jogador de futebol. Como fosse grande escândalo. Uma desproporção, porque tal expediente, de deixar o Congresso às moscas, é rotina e não exceção. E acontece no Congresso e também nos demais parlamentos estaduais, como a Assembleia Legislativa do Paraná. E se é caso de crucificar Romário, também é caso de expor os demais que não cumprem a mais elementar de suas obrigações como representantes do povo, que é representá-lo no Poder Legislativo federal. Então, se há erro, o erro é coletivo, e não individual. É habito, e não descuido.

O episódio serve de oportunidade para abrir um debate sobre a necessidade de controle mais rigoroso sobre as ações dos parlamentares, incluindo presença nas sessões. E também abrir debate sobre as responsabilidades do próprio eleitor. O deputado Romário de Souza, na condição de jogador de futebol habilidoso, deu alegrias ao torcedor brasileiro. As duas maiores, contribuindo para o País se classificar e conquistar a Copa do Mundo nos Estados Unidos. Ninguém tira o mérito dele.

O fato de Romário ter sido jogador de futebol habilidoso não tira dele o direito de ser candidato a representar parcela do eleitorado brasileiro no Congresso Nacional. Mas qualquer um que o conhecia soube pelo menos uma vez de que não se tratava de alguém afeito aos rigores e rotinas protocolares. E não seria depois de velho que iria mudar. Então, a pergunta que se faz a este eleitor é: por que votou então no candidato se havia mais indicativos de que seria nulidade do que um estimulador das práticas democráticas?

Se votou por admiração ao ex-jogador (como se faz com palhaços e cantores de sucesso na televisão), votou errado. Se não sabia quem era Romário, votou errado, pois deveria ter tomado conhecimento do candidato em quem ia votar. E se votou apenas por deboche aos ritos democráticos, também votou errado. Se votou porque é parente, amigo ou cupincha, também votou errado. O resumo da ópera de Romário, com ausência no plenário e futevôlei na praia, é que se Romário errou, bem antes dele, errou o eleitor que conduziu alguém ao Congresso com prontuário pouco indicado para a função. Alguém de quem não se deveria esperar coisa melhor que jogar futevôlei na praia durante uma sessão.

O eleitor de Romário também é responsável. E os outros eleitores também são, porque a maioria dos deputados eleitos é tão gazeteira quanto foi Romário. Só que essa maioria apenas não foi fotografada porque não é notória como o campeão mundial. E é função do eleitor fiscalizar os atos de seus representantes e cobrá-los quando praticam deslize. Se este problema da gazeta se resumisse a Romário, os brasileiros agradecidos pelos seus feitos nos campos esportivos poderiam perdoá-lo e pedir para ele voltar para casa. Vá jogar futevôlei e deixe a política para quem é sério. Tudo estaria resolvido. Mas parece que tem pouca gente séria na política. O problema é mais amplo e também atinge os estados. E a pergunta que se faz é a seguinte: o que vamos fazer com esta gente nos próximos quatro anos, meu Deus?

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