A alternativa Palocci

O deputado federal Antonio Palocci (PT-SP), ex-ministro da Fazenda do governo Luiz Inácio Lula da Silva, está com a faca e o queijo nas mãos (além do apoio irrestrito do presidente) para disputar a cadeira de governador de seu estado em 2010. O salvo conduto foi carimbado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que na sessão realizada na tarde-noite da última quinta-feira rejeitou por cinco votos a quatro (ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Carlos Britto e Cármen Lúcia) o pedido da Procuradoria Geral da República pela abertura de processo criminal contra o ex-ministro, suspeito de ter participado da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, em 2006.

Na verdade, Palocci poderá ser candidato a qualquer cargo eletivo nas eleições do próximo ano, aliviando a pesada carga depositada sobre os ombros do presidente Lula pelas contingências hoje vividas pelo Partido dos Trabalhadores na maioria dos estados. O problema eleitoral de São Paulo era um dos que mais atazanavam o presidente, que em dado momento chegou a sacar do fundo do baú a alternativa da candidatura do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), que por boa vontade ventilou a ideia de pedir à Justiça Eleitoral a transferência de seu título para o referido estado.

Ciro é um destacado pré-candidato à sucessão de Lula, aparecendo sempre em boas condições nas pesquisas de intenção de voto e, por isso, não viu o menor impedimento em mudar o domicílio eleitoral para São Paulo, de onde poderá eventualmente lançar as bases da campanha de sua preferência que é a disputa presidencial.

A remoção do empecilho que dificultava a candidatura de Antonio Palocci veio a calhar para o PT, que dessa forma passou a dispor de um nome forte para a disputa no maior estado da federação, um dos alvos primordiais da estratégia de poder do partido. Por duas vezes a capital teve prefeitos eleitos pelo PT (Luiza Erundina e Marta Suplicy), mas sempre ficou claramente alijado do Palácio dos Bandeirantes. A dura realidade é que as opções disponíveis para 2010 (Mercadante, Marta ou José Genoino) dificilmente teriam condições de alavancar uma campanha bem-sucedida.

Ao que parece, as melhores chances do PT ocupar algum espaço na corrida eleitoral estão restritas ao Rio Grande do Sul, com a candidatura antecipada do ministro Tarso Genro (Justiça) que tentará substituir a desalentada governadora Yeda Crusius (PSDB), embora seguido muito de perto pelo prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB). Também na Bahia, o governador Jacques Wagner parece marchar para a reeleição, mesmo arcando com as farpas do inevitável confronto com o interesseiro ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), um dos cinco indicados pelo PMDB para o primeiro escalão da administração federal. Os ventos débeis também não ajudam a nau petista a demarrar nos estados de Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Goiás e Pernambuco, por exemplo, nos quais Lula trabalha abertamente em favor das coligações com o PMDB ou outra legenda da aliança governista.

O exemplo mais eloquente das dificuldades do PT lançar candidato próprio em estados de reconhecida expressão socioeconômica vem do Rio de Janeiro, onde o governador Sergio Cabral Filho é candidato declarado ao segundo mandato com o apoio da base. A reação contrária partiu do petista Lindberg Farias, prefeito do município de Duque de Caxias, mesmo sabendo não ser essa a orientação do presidente Lula para a montagem de bons palanques para a campanha da ministra Dilma Rousseff. O cenário pode mudar com o aprofundamento da discórdia entre o governador e o governo federal pela forma como se tratou a questão dos royalties do pré-sal.

O alerta do Planalto começou a piscar e, mais que depressa, Lula convidou para um jantar nesse domingo os governadores Sergio Cabral Filho (RJ) e Paulo Hartung (ES), que em represália à delineada discriminação aos interesses de seus estados haviam declinado do comparecimento ao ato festivo de lançamento do regime jurídico da exploração do pré-sal, marcado para amanhã em Brasília.

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