Vivemos em uma época em que se louva mais que tudo a aparência física. As crianças e os adolescentes não vêem a hora de crescer para terem acesso “às delícias da vida”, que parecem estar concentradas entre os 18 e 35/40 anos de idade. Mais tarde, as pessoas tentam parecer estarem ainda nessa fase, valendo-se de todo tipo de cirurgias estéticas – além, é claro, das eternas dietas alimentares e exercícios exaustivos.
Mais uma vez me oponho ao padrão social atual – acredito mesmo que estamos vivendo um mau momento. Acho a infância um período de descobertas fascinante, quando nos familiarizamos com o mundo que nos cerca e começamos a fazer algumas incursões para o mundo interior. Na adolescência, essa viagem para dentro, para o conhecimento do próprio corpo e de sua sexualidade, se torna mais complexa, e pro vezes, um tanto sofrida.
A parte da vida adulta hoje privilegiada é a que tem a ver com a busca de sucesso em uma sociedade competitiva e desleal. É uma fase difícil e talvez seja a mais penosa para a maioria das pessoas que não conseguem as glórias que aprenderam a sonhar. Os que se casam têm de lidar com as complicações de um cotidiano em comum. Os que têm filhos precisam, além de experimentar as delícias de acompanhar a formação de um novo ser, aprender a renunciar.
Texto retirado da obra Superdicas para viver bem e ser mais feliz, de Flávio Gikovate, Saraiva, São Paulo, 2006.