Um mal silencioso

Dagoberto Callegaro

Confundida com o tipo de demência que atinge idosos, a esclerose múltipla (EM) afeta um número crescente de jovens adultos no Brasil, desinformados sobre a doença, que acomete os filamentos que unem as células entre si. Isso ocorre quando o sistema imunológico ataca a bainha de mielina do sistema nervoso central, um revestimento rico em gorduras que envolve as terminações dos neurônios responsáveis pela comunicação interneuronal.

O dano dificulta a transmissão dos impulsos elétricos nervosos, degenerando funções como a força dos membros inferiores e superiores, coordenação motora, a visão e o controle da bexiga. A doença aparece em jovens com idade entre 20 e 40 anos. A pessoa pode ter um sintoma, como fraqueza nas pernas, por uma semana e o problema desaparecer sem tratamento. Só que, depois de um tempo variável de meses ou anos, os sinais podem voltar mais intensos. Em 10 anos, os sintomas podem ficar bem visíveis.

O tratamento precoce é a melhor maneira de controlar a doença e reduzir a possibilidade de um novo surto. Isso significa tentar aumentar o intervalo entre um sintoma e outro, devolvendo a segurança ao paciente. A EM é uma doença crônica. Que pode ser controlada com medicação.

Há um componente genético que cria uma predisposição para o aparecimento da doença, entretanto, não se sabe exatamente o que desencadeia – pode ser uma infecção ou qualquer outro fator ambiental. Os sintomas incluem formigamento no braço, desorientação ao andar, tremores nas mãos. Dentre os medicamentos utilizados está o beta-interferona 1-A, subcutânea, que provoca poucas reações adversas no local da injeção; a cladribina, medicação oral prevista para chegar ao mercado em 2010; e os anticorpos monoclonais que podem ser alternativas interessantes de tratamento. O beta-interferon 1-A atua sobre as inflamações que caracterizam a enfermidade, aumentando o período entre os surtos e melhorando a qualidade de vida dos pacientes.

Quando sinais como estes aparecem em crianças, é muito difícil que pais e pediatras suspeitem de esclerose múltipla. O problema é que até 5% dos pacientes adultos relatam que seus sintomas apareceram na infância. Se notarem sintomas suspeitos, os pais precisam levar seus filhos ao médico para que a doença seja diagnosticada o quanto antes, evitando seqüelas.

No Brasil, estima-se que haja uma média de 15 casos a cada 100 mil pessoas, sendo as mulheres duas vezes mais atingidas que os homens. O diagnóstico é feito por exame clínico, de líquido da espinha e por ressonância magnética. Os tratamentos existentes hoje são bem tolerados, a pessoa segue a vida normalmente, podendo inclusive exercer as atividades profissionais, sociais e familiares. Os pacientes devem persistir no tratamento e estarem cientes de que os medicamentos surtirão o efeito desejado.

Dagoberto Callegaro, neurologista e especialista em esclerose múltipla.