Antônio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica |
A cada dois segundos, no Brasil, um paciente precisa de transfusão de sangue, de acordo com a Fundação Pró-sangue. Normalmente, isso ocorre em casos de cirurgias, traumatismos, anemias ou partos, em que a perda de sangue é significativa e o organismo não é capaz de uma recomposição suficientemente rápida.
Pacientes de câncer e portadores de algumas doenças genéticas que afetam o sistema sangüíneo também podem precisar de sangue ou de seus derivados. É, por exemplo, o caso dos hemofílicos, que necessitam de transfusão para minimizar o comprometimento do sistema de coagulação.
O procedimento começa com a doação de sangue, que deve ser feita de maneira absolutamente voluntária. A Constituição Federal veda qualquer tipo de comercialização envolvendo o sangue, que deve sempre ser doado com fim altruístico. Também garantido por lei é o sigilo acerca das declarações prestadas pelo doador na entrevista que precede a coleta.
O questionário é o primeiro passo para garantir que a doação seja de pessoas saudáveis e não ofereça riscos nem ao receptor nem ao doador. Após esta triagem inicial, o sangue passa por uma série de testes para comprovar sua qualidade. De acordo com recomendação do Ministério da Saúde, o sangue doado deve ser submetido a testes que confirmem a ausência de algumas doenças, como malária, sífilis, doença de Chagas, hepatites B e C e até mesmo a Aids. No caso de o doador ser portador de algum desses males, eles podem ser transmitidos em uma transfusão. Passado esse processo, o sangue é estocado à espera de receptor compatível. Pode também ser armazenado para uso próprio, situação em que o indivíduo doa para si mesmo meses antes de ser submetido a uma cirurgia.
Existem determinados tipos de sangue incompatíveis com outros, impedindo a transfusão. No universo das combinações, o portador do sangue AB positivo é considerado receptor universal, já que pode receber qualquer tipo sangüíneo. O de tipo O negativo é classificado como doador universal, pois seu sangue pode ser recebido por todos os indivíduos. É o tipo ideal para casos de acidentes ou emergências, quando não há tempo de realizar o estudo do sangue do receptor. Aliás, por este motivo, os bancos de sangue geralmente focam suas campanhas de doação nos portadores desse tipo de sangue.
Como ainda não existe nenhum substituto para o sangue humano, fazer da doação uma rotina é um ato de cidadania. É seguro doar sangue a cada seis meses. Qualquer pessoa com boa saúde, entre 18 e 65 anos de idade e com mais de 50 kg de peso, é um doador potencial. Além de salvar inúmeras vidas, a doação não traz qualquer revés ao doador, demora cerca de uma hora e pode ser útil para até três pessoas.
Todos devem conhecer os locais de coleta mais próximos. Além do benefício evidente da doação, quem doa tem gratuitamente vários exames realizados. Frequentemente pacientes portadores de hepatite B ou C e sífilis, que não tinham diagnóstico estabelecido, são identificados durante a doação de sangue e passam a ter a oportunidade de receber o tratamento adequado.