Mais importante que a morte em si é o medo que ela provoca. A morte é uma transição, a passagem para um estado desconhecido cujas características todos saberemos oportunamente. O que tumultua, e, por vezes, perturba muito nossa vida é o medo que sentimos quando pensamos na morte. Podemos nos apavorar diante de qualquer pequeno mal-estar; isso se chama hipocondria.
O medo da morte começa a se manifestar muito cedo em nossas vidas. Aparece quando nos tornarmos conscientes de que a vida é finita – talvez, lá pelos seis ou sete anos de idade. A sensação é horrível porque acontece exatamente durante os funerais de pessoas próximas e queridas. Presenciamos a morte associada à dor daqueles que continuam por aqui.
A dor provocada pela morte de pessoas queridas é parecida com a das rupturas amorosas que mais tarde conheceremos tão bem. Passamos a temer nossa própria morte e também a dos que nos são caros. Conscientes da incerteza da nossa condição, só nos resta aprender a lidar com esse suspense permanente. Temos de conseguir viver em paz, apesar de sabermos que tudo pode terminar de uma hora para outra. Os que não conseguem passarão a vida aflitos.
Com o passar dos anos aceitamos com descrente docilidade a ideia da morte. Talvez por causa da sabedoria que acumulamos; ou, então, porque já provamos muitas coisas desta vida, de modo que partir não parece mais tão doloroso.
Talvez seja um mecanismo de adaptação à realidade, já que a velhice implica uma óbvia aproximação da morte. Penso que a grande sabedoria é saber-se mortal, aceitar isso como fato inexorável e nada dramático, além de viver o dia-a-dia como se fôssemos eternos. Não convém ficarmos nos preparando muito para enfrentarmos algo totalmente desconhecido. Cada coisa a seu tempo.
Texto retirado da obra Superdicas para viver bem e ser mais feliz, de Flávio Gikovate, Saraiva, São Paulo, 2006.