Pesquisa recente da Fundação Dom Cabral apontou a busca do equilíbrio entre vida profissional e familiar como a maior fonte de angústia dos executivos, com 31% das respostas. As demais preocupações levantadas são: capacidade de ter emprego (18%), segurança pessoal (9%), gestão da empresa (9%), disputas pelo poder (8%) e ações do governo (8%).
Embora os resultados acima sejam significativos e inquestionáveis, a experiência pessoal me ensinou que família e carreira constituem apenas dois dos sete pilares que nos sustentam. Os demais são representados pela saúde, a cultura, a comunidade, a matéria e o espírito. A este conjunto denominei ?Sete Vidas?.
O conceito inerente às ?Sete Vidas? consiste em buscar a felicidade a partir do equilíbrio entre estes aspectos, que governam nossa passagem por este mundo. A questão é que não nos apercebemos disso e cultivamos o hábito de priorizar ora a vida profissional, com objetivos meramente materiais, ora a vida afetiva, entregando nosso destino nas mãos de outrem. No primeiro caso, temos os workaholics; no segundo, os passionais. Em ambos, encontramos o desequilíbrio, acompanhado, num futuro, próximo ou distante, da frustração, da desilusão e da melancolia.
Quando cuidamos de nossos negócios (ou dos outros, com atitude empreendedora), costumamos assumir uma postura extremada, engajando-nos de corpo e alma, labutando 14 horas diárias, negligenciando nossa saúde, familiares, vida social e cultural.
Os dias tornam-se curtos, insuficientes para a realização das atividades propostas. O almoço mostra-se supérfluo. Dorme-se pensando nas duplicatas vencidas e a vencer, nos clientes que deixaram de ser atendidos, nos atrasos na linha de produção. Dificilmente lembramo-nos dos aspectos positivos daquele dia, já que os problemas são recorrentemente mais pujantes.
Os finais de semana são comemorados no escritório ou em casa, porém regados a ?trabalho atrasado?. Sentimo-nos quase reféns de uma espiral interminável, mas sempre com a impressão de que ela está por findar-se. ?Em três meses poderei tirar férias?, ou ainda, ?Estou concluindo esta etapa de crescimento da empresa em uns seis meses e então poderei trabalhar menos?.
Enquanto isso, a vida vai passando. Seus filhos crescem e você deixa de participar de suas apresentações na escola, no clube, da perda de seu primeiro dente. Seus relacionamentos pessoais desgastam-se, namoros perdem o encanto e casamentos são rompidos. A dieta saudável e as atividades físicas ficam relegadas a um segundo ou terceiro plano.
Sempre observo como a maioria dos executivos se dá conta de aspectos como os mencionados anteriormente apenas após quarenta e cinco, cinqüenta anos, ou mais. Nesta fase da vida, realizaram-se profissionalmente, mas uma lacuna em suas vidas pessoais deixou flancos que infelizmente não podem mais ser preenchidos, pois ficaram no passado. Sob este prisma, são ricos materialmente, mas estão pobres.
O ensaísta francês André Gide, disse certa feita: ?Todas as coisas já foram ditas, mas como ninguém escuta, é preciso sempre recomeçar?. Por isso, ter a consciência, integrar, conciliar e harmonizar estas ?sete vidas? pode significar o caminho mais curto, a menor distância para você encontrar o sucesso e a felicidade.