Como medir a gravidade de uma doença crônica e contemplar o paciente em sua totalidade? Este é um dos principais desafios da medicina moderna, que busca enxergar o indivíduo sem separá-lo do seu contexto social ou pessoal. O habitual é avaliar pessoas com doenças crônicas e progressivas por meio de atendimento clínico e exames laboratoriais, incluindo mensuração da pressão arterial, freqüência cardíaca, tomografia, ressonância magnética e até estudos genéticos. Um novo conceito, defendido pelos médicos, nos dias atuais, é a utilização de medidas de qualidade de vida.
As doenças crônicas, por não terem cura, a resposta ao tratamento é consequentemente individual, podendo variar a qualquer momento da vida, de acordo com fatores internos e externos, como resultado de uma medida ditada pelo paciente. Isso também se reflete na qualidade de vida, assim como nas expectativas vivenciadas no decorrer dos anos que cada paciente tem para sua vida.
Alguns estudos têm relatado que os médicos tendem a subestimar o impacto da doença no paciente e os pais, a superestimá-lo, principalmente no que se refere à dor e emoção dos seus filhos. Um exemplo comum é da dermatite atópica (DA), que em decorrência dos próprios sintomas (coceira, lesões de pele e às vezes sangramentos), pode provocar sonolência diurna (em virtude de uma noite mal dormida, devido à coceira que as lesões provocam), irritabilidade (principalmente nos bebês) e até depressão, nos casos graves.
As crianças em idade escolar podem apresentar reflexos desse distúrbio quando em idade escolar, tanto no que diz respeito ao desempenho quanto no relacionamento com os colegas. Os adolescentes, por outro lado, mudam o comportamento social e podem ter dificuldade no relacionamento interpessoal e diminuição da auto-estima. Para os adultos, o impacto pode se dar no trabalho. Esses sintomas podem ser subestimados pelos médicos, mas é importante ter noção que em cada faixa etária existe uma relação direta da doença e o impacto que ela provoca na vida do paciente, e consequentemente na qualidade de vida.
Doenças crônicas progressivas também causam forte impacto na qualidade de vida, e os estados físico e psicológico estão correlacionados. Pacientes com psoríase, por exemplo, mostraram que fatores como ganho salarial, empregabilidade, estresse e comprometimento da atividade sexual podem afetar sua qualidade de vida, agravando a doença e impedindo-os de trabalhar. Entretanto, os dermatologistas devem estar atentos para o fato de que uma melhora clínica importante pode não reduzir significativamente o sofrimento psicológico.
Por conta dessa diversidade de sintomas nas doenças crônicas, mudanças de comportamento e impacto em atividades do dia-a-dia, é importante que o médico tenha em mente que tratar a doença é tão importante quanto avaliar o impacto dela na vida do paciente, pois sua função também é tentar garantir uma condição de vida mais adequada e com mais qualidade.