Parar de fumar, uma atitude rumo à sustentabilidade

Mauro Augusto Santo, cardiologista e especialista em medicina do esporte

Apesar de sabermos que o tabagismo é um problema de saúde pública mundial, causando prejuízos financeiros e sociais, que obrigam governos a criarem leis e políticas públicas para amenizar seu impacto, e mesmo tendo plena consciência dos seus malefícios em nossa saúde pessoal, por que é tão difícil parar de fumar?

Comecemos a entender esse paradoxo do ponto de vista neurobiológico. A dopamina é o neurotransmissor da dependência. Ela é que dispara a sensação de prazer – seja a advinda da ingestão de um prato saboroso, seja a causada pela fumaça de um cigarro. Até pouco tempo, acreditava-se que o vício era processado, exclusivamente, nas porções cerebrais associadas ao sistema de prazer e recompensa, ativado em especial pela dopamina.

A novidade é a descoberta de que há outros circuitos envolvidos nesse mecanismo, e de que a dopamina também os integra. Graças ao aperfeiçoamento dos exames de neuroimagem, constatamos que os efeitos neurobiológicos das drogas ultrapassam os centros de prazer e recompensa do cérebro e se estendem ao córtex pré-frontal, região associada à analise dos riscos e benefícios, na qual se concentram as tomadas de decisão.

Segundo os especialistas é necessário “apagar” o impulso e a memória que levam ao consumo da droga. O poder das lembranças associadas às drogas é extremo, vindo à tona sempre que um usuário vê um objeto ou uma pessoa relacionado às suas experiências com o vício.

Outra questão crucial é a propensão genética ao vício. Assim como há pessoas mais predispostas a desenvolver depressão, hipertensão ou câncer, existem aquelas mais suscetíveis à dependência química.

Existe um gene específico associado à síntese da enzima monoaminoxidase A, uma das substâncias responsáveis pelo equilíbrio de dopamina no cérebro. Quando há mutações nesse gene, a pessoa torna-se mais ou menos vulnerável ao vício.

Há dois grupos de pessoas mais propensas: os adolescentes e os portadores de distúrbios psiquiátricos. Durante a adolescência, o cérebro sofre mudanças dramáticas. O fato de ainda estar em desenvolvimento, os coloca sob risco maior de optar por decisões erradas, como experimentar drogas e continuar a abusar delas.

Explica-se, assim, porque a luta contra o vício costuma ser marcada por recaídas e fracassos. A combinação com terapias psicológicas é essencial para ajudar o dependente a ficar longe do vício.

Reprogramar, repensar, refletir, recomeçar, todas palavras-chave e fundamentais na busca de mudanças reais. É fundamental desenvolver uma nova postura em relação às doenças e vícios que possuímos. Querer se livrar da doença não significa a mesma coisa que buscar a saúde. Assim como estamos revendo a forma irresponsável e egoísta, como até hoje tratamos o nosso planeta, tornando-o cada vez menos sustentável para nossa própria sobrevivência, parar de fumar tem que ser uma atitude rumo à nossa sustentabilidade pessoal.