Oração e cura – fato ou fantasia?

Por mais polêmica que seja a discussão sobre a interferência da fé em nossa saúde física e mental, esse assunto transcende os nossos consultórios quando transmitimos aos pacientes um diagnóstico desfavorável. Devemos permanecer calados, frios ou até sarcásticos quando nos fazem referência à pretensa proteção divina? Evidentemente que não, pois a nossa impotência profissional sempre é reafirmada pela inexorabilidade do sofrimento e da morte. Além da nossa competência profissional e técnica, não podemos nos esquecer que à nossa frente pode estar um ser que sofre e que, independente da sua doença, está ali para ser ouvido e muitas vezes para ter o seu sofrimento compartilhado com aquele que o atende.

A partir do final dos anos 1990, surgiram cursos, congressos, eventos enfocando a relação entre a espiritualidade e a saúde, dando como frutos uma enormidade de trabalhos científicos publicados no mundo todo. Muitas críticas foram feitas por vários pesquisadores alegando a fragilidade metodológica dos estudos, principalmente pela existência de inúmeras variáveis não controladas durante os trabalhos. Recentemente, no entanto, os trabalhos publicados têm recebido maior atenção metodológica, controlando-se variáveis que poderiam influir nos resultados, tais como, sexo, suporte social, idade e renda.

É extremamente interessante o estudo da relação entre o envolvimento religioso e a saúde, aspecto que tem ocasionado aumento significativo das pesquisas nessa área, principalmente com a realização de exames não invasivos capazes de reconhecer áreas cerebrais envolvidas durante a oração, tais como a tomografia computadorizada com emissão de positrons, o PET Scan e a ressonância magnética funcional.

Existem inúmeras explicações dos possíveis mecanismos existentes na relação entre envolvimento religioso e estado de saúde, como a prática de ritos e crenças que podem levar as pessoas a viverem com níveis de estresse menores ou a fazerem experimentar emoções positivas, como a capacidade de perdoar promovendo, dessa forma, uma melhor qualidade de vida.

Por outro lado, um grande número de pesquisas tem demonstrado a associação dos efeitos negativos do estresse sobre o estado de saúde, ocasionando várias patologias, entre elas a doença cardiovascular, principal responsável pela mortalidade nos dias de hoje. Por isso, o interesse dos pesquisadores vem se dirigindo à interação entre os sistemas imunológico, neurológico e psicológico, que exerce papel preponderante na gênese dos benefícios que o envolvimento religioso poderia trazer aos indivíduos no tratamento auxiliar de várias patologias, como hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, depressão, ansiedade, entre outras.

O envolvimento religioso ou espiritual é uma das grandes forças que atuam no mecanismo de defesa contra o estresse crônico, podendo ser excelente no auxílio à prevenção ou combate de inúmeras moléstias e também no aumento da expectativa de vida.