Maristela Lobo, especialista em odontologia estética
Os danos que o cigarro causa ao organismo humano já são conhecidos de grande parte da população. Entretanto, o que muita gente ainda não sabe é que o cigarro promove e acelera o desenvolvimento de doenças bucais, principalmente por diminuir a capacidade de defesa nesta região. O cigarro possui uma substância derivada da nicotina, denominada cotinina, que diminui a vascularização e o aporte sanguíneo à gengiva, ao osso que circunda os dentes e à mucosa oral. Dessa forma, as células de defesa, que seriam levadas pelo sangue à região infectada por bactérias orais, não conseguem alcançar seu objetivo. O resultado é a instalação silenciosa de uma doença periodontal (ao redor dos dentes), sem sintomas exagerados, mas que progride rapidamente até a perda do dente.
O tratamento da doença periodontal em fumantes torna-se complexo pela dificuldade de convencer o paciente a abandonar o hábito e o vício do cigarro. O protocolo de tratamento é semelhante nos não fumantes, embora tenha duas principais particularidades: a primeira é que os cirurgiões-dentistas, darão início a uma campanha de apoio ao abandono do hábito e do vício; a segunda é que o paciente deve estar ciente de que a cicatrização em fumantes também é afetada pela falta de vascularização, gerando um atraso de duas a três semanas para o reparo completo de qualquer ferida cirúrgica intra-oral.
O nosso, papel, como profissionais de saúde, é informar, de maneira clara e objetiva, todos os prejuízos causados pelo cigarro, na saúde bucal e geral, e motivar o paciente a parar de fumar, fornecendo ferramentas de ajuda à síndrome de abstinência, ou seja, à sensação de ansiedade de perda que acompanha o abandono do vício nos primeiros meses.
Quando o paciente relata que fuma de 5 a 10 cigarros por dia, ele está informando que o hábito é mais forte que o vício e, portanto, é mais fácil parar. Mas se o indivíduo relata fumar uma quantidade superior a 20 cigarros por dia, o vício químico pode ser maior que o hábito, dificultando o processo de abandono do cigarro. Em ambos os casos, o paciente tem que desejar viver sem fumar. Talvez, para muitas pessoas, falte informações suficientemente impactantes, que o convençam a parar de fumar.
Se o paciente demonstra a “força do hábito” do cigarro, uma boa opção é o cigarro eletrônico. Esse pequeno aparelho consiste em uma piteira elétrica, que produz fumaça, e que possui cartuchos que podem estar vazios, ou carregados com diferentes níveis de nicotina. Esse dispositivo tem se mostrado bastante eficiente. Em indivíduos dependentes quimicamente da nicotina, o cigarro elétrico não parece ser suficiente. Deve-se obter auxílio médico, com indicação expressa do dentista, para que faça uso de medicações específicas para o controle da ansiedade.