O ano novo para o velho

Em 2008, cerca de 630 mil brasileiros ingressarão na terceira idade. É como se, instantaneamente, brotasse no País um município do porte de Santo André, um dos maiores do Estado de São Paulo, integralmente povoado por pessoas idosas. Hoje, são aproximadamente 18 milhões os habitantes nessa faixa etária, na qual a expansão é de 3,5% ao ano. O crescimento é maior no segmento acima de 80 anos, atingindo 5%.

Entender o impacto desses números no quadro demográfico, social e da saúde é imprescindível no sentido de se estabelecerem estratégias adequadas. O Brasil vai deixando de ser um país de jovens. Delineia-se um cenário muito diferente do que se observava há pouco mais de meio século, quando os octagenários eram menos de 1% dos habitantes. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) prevê que, este índice chegará a 12%, atingindo 31 milhões de pessoas, o equivalente à população do Peru ou do Marrocos.

O envelhecimento dos brasileiros, como na maioria do mundo em desenvolvimento, ocorre mais tarde em relação aos países desenvolvidos. A expectativa de vida nesses países, que entre 1950 e 1955 era de 67 anos, subiu para 79. Nos subdesenvolvidos, a evolução foi de 41 para 63 anos, em média.

Há uma observação crítica, feita por Alexandre Kalache, médico brasileiro que chefiou o Programa de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS): ?Os países desenvolvidos enriqueceram antes de envelhecer. Países como o Brasil estão envelhecendo antes de serem ricos?. Ou seja, o Brasil tem um desafio crucial pela frente: criar condições econômicas e sociais que permitam uma boa qualidade de vida aos idosos, pois, como alertam os números, nos próximos 40 anos haverá crescimento acelerado dessa faixa etária.

Quando se analisam estratégias e ações relativas à qualidade de vida dos velhos, não se pode limitar o pensamento às obrigações do Estado. É necessária a mobilização das famílias e da sociedade para o enfrentamento do desafio. Nesse sentido, deve-se ficar atento às recomendações da própria OMS que define o envelhecimento ativo como ?o processo por meio do qual se possam otimizar as oportunidades para saúde, participação e segurança, de modo a assegurar qualidade de vida à medida que se envelhece?.

Tais recomendações assumem significado ainda mais relevante se considerarmos que, em 2008, o Estatuto do Idoso, aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo presidente Lula, tem como meta justamente ampliar os direitos e a qualidade de vida dos cidadãos com idade acima de 60 anos. O estatuto institui penas severas para quem desrespeitar ou abandonar cidadãos da terceira idade. Isto inclui o Estado, ao qual devemos cobrar ações efetivas, mas também a sociedade, que tem responsabilidades inalienáveis quanto à vida dos brasileiros que envelheceram.