Novos hábitos alimentares

Vera Lúcia Morais Antônio de Salvo, nutricionista e mestre em epidemiologia

Hábitos alimentares são tipos de escolha e consumo de alimentos feitos por um indivíduo ou grupo, em resposta a influências fisiológicas, psicológicas, culturais e sociais. Tais hábitos formam-se logo nos primeiros anos de vida e são consolidados nas idades subseqüentes.

Nos últimos anos, o aumento do poder econômico e a influência das crianças têm representado fatores determinantes sobre as compras da família em diversas categorias de produtos -principalmente cereais matinais, lanches e guloseimas -, e, neste sentido, torna-se fundamental atentar e zelar pela alimentação, para que não tenhamos, no futuro, jovens e adultos precocemente doentes.

O ritmo acelerado da vida moderna também não favorece para a criação de hábitos alimentares saudáveis, pois conduz a uma ingestão cada vez maior de energia, enquanto limita a prática de atividade física. Por conta da correria cotidiana, questões básicas, como o respeito ao horário das refeições e a necessidade de um ambiente tranqüilo no momento da alimentação são ignorados. Muitas pessoas não mastigam adequadamente e apenas engolem o alimento, geralmente com a ajuda de grandes quantidades de refrigerante (que ?rouba? cálcio do organismo) ou suco, contribuindo para o surgimento de problemas gástricos e para o aumento de peso. A informalidade está presente na maioria das refeições do dia-a-dia. Pratos mais elaborados e a formalidade de se ?colocar a mesa? faz parte de um ritual apenas em datas especiais como Páscoa e Natal.

Apesar do arroz e feijão estarem presentes na mesa de todos os brasileiros e a carne vermelha no prato de 70% da população, segundo pesquisa realizada pela Escola Superior de Publicidade e Marketing (ESPM) em dez capitais brasileiras, a tendência de mudanças no padrão alimentar da população brasileira destaca a elevação do consumo de carnes e alimentos industrializados (refrigerantes, biscoitos e refeições prontas) e a redução do consumo de leguminosas, raízes e tubérculos, frutas, legumes e verduras.

As refeições prontas, que representavam baixo percentual de aquisição na década de 1970, também passaram a apresentar uma fatia significativa das calorias disponíveis, superior ao grupo das leguminosas, promovendo aumento calórico e redução no conteúdo total de fibras. É preciso dar preferência aos cereais integrais, aos legumes e verduras cruas ricas em potássio, vitaminas e minerais.

A televisão também está presente durante todas as refeições para mais da metade da população, fazendo com que a interação entre os familiares diminua e a ingestão calórica aumente, uma vez que o indivíduo deixa de prestar a devida atenção ao que está ingerindo e à quantidade (o mesmo vale para o computador).

Já dizia o pai da Medicina, Hipócrates: ?Faz do alimento teu remédio e do teu remédio tua alimentação?. Quanto mais colorida for sua a refeição, mais apetitosa e saudável ela será.