Maratona emocional

Quando um casal recebe do médico o diagnóstico de infertilidade e a indicação de tratamento, muitas vezes, não faz a menor idéia do que vem a ser uma técnica de reprodução assistida. Ambos acreditam que, tão logo, iniciem o tratamento, terão a tão almejada criança em seus braços. Porém, a realidade pode ser bem diferente.

Para a maioria dos casais, são necessárias várias tentativas de tratamento até a realização do sonho, visto que, a cada tentativa, as chances da técnica dar errado são maiores do que as de dar certo. No entanto, muitas pessoas iniciam o tratamento, acreditando que engravidarão na primeira tentativa, negando para si próprias a possibilidade do “não”.

Em geral, com o resultado negativo, o tamanho da frustração costuma ser de acordo com o da idealização, sendo bastante dolorido esse processo, até que o casal possa se recompor emocionalmente. Há casais que chegam a abandonar o tratamento ou têm dificuldades para reiniciá-lo, justamente por não desejarem passar por esse sofrimento novamente.

Outra situação bastante frequente nos tratamentos de reprodução assistida é a troca de médico, quando a tentativa de engravidar não dá certo. É necessário haver um responsável -ou um culpado – por esse fracasso, porque, para muitos, é difícil aceitar que tentar algumas vezes pode fazer parte desse processo. Percebemos, muitas vezes, que a imagem de quase “deus”, construída pelo casal para a figura do médico, de um momento para o outro, se inverte para a imagem do “diabo”, que passou a castigá-los.

Muito comum também durante o tratamento é o casal querer logo mudar de técnica ao não obter o resultado desejado. Em certos casos, mesmo com a indicação médica para continuarem com o mesmo procedimento, o casal acaba insistindo em realizar “algo mais avançado”. Entretanto, já sabemos que as técnicas de reprodução mais simples podem chegar a resultados positivos, e que quem decide o que pode ser melhor para cada caso são os profissionais que acompanham o casal. Há casais que tentam controlar o que não é controlável e acabam quase atropelando o saber do médico.

Tendo em vista os aspectos até agora expostos, percebemos o quanto os casais ficam fragilizados com a vivência do diagnóstico de infertilidade, sendo de extrema importância o suporte psicológico, desde o início do tratamento. O suporte emocional adequado pode auxiliar todo esse processo, tornando-o mais leve e possível de ser vivenciado.

Cada casal tem uma história particular e, assim como existem os que engravidam logo na primeira tentativa, há também os que precisam tentar várias vezes, até o resultado positivo de gravidez, que jamais seria possível sem a persistência e o real enfrentamento da situação.