Não podemos jamais negar que a produção científica aumentou muito no país. Em maio de 2009, o Ministério da Educação anunciou um crescimento de 56% no número de artigos publicados em periódicos científicos de alto padrão. No período de 2007 a 2008, o Brasil saltou da 15ª para a 13ª posição no ranking de produção científica mundial. Porém, é preciso questionar até que ponto as pesquisas financiadas no país são de fato produtivas para a comunidade.
Considerando a escassez do dinheiro público, as verbas destinadas ao financiamento de pesquisas científicas devem ser investidas prioritariamente naqueles estudos que têm como fim a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. É inconcebível que o dinheiro público seja jogado pelo ralo em pesquisas irrelevantes.
Há pouco tempo, encontrei com um colega médico que havia cursado pós-graduação. Depois de uma conversa informal, ele comentou que, entre mestrado e doutorado, haviam se passado sete anos e suas pesquisas realizadas em animais de experimentação ainda não haviam sido publicadas em revista científica nacional de renome.
Durante esse período, ele tinha se dedicado somente a atividades laboratoriais relacionadas à pesquisa. Em tom de confidência, registrou ainda que sentia necessidade de fazer uma especialização, pois ficara muito tempo afastado da prática médica. Resultado: não estava realizado profissionalmente e tinha consciência de que ficara limitado para atuar plenamente como médico.
Casos semelhantes a esse são inúmeros, onde o título de mestre e doutor é mais importante do que o incremento da atuação profissional. Instituições que se julgam do mais alto nível, querem estabelecer para seus programas, conceito altíssimos.
O mais importante não deve ser o diploma de pós-graduação. Os cursos de qualidade são aqueles que se preocupam em desenvolver habilidades, ética e atitude. Aqueles que mostram como o profissional pode construir seu próprio saber, buscar atualização e aplicar o conhecimento com critério.
É hora de estabelecer metas claras para o direcionamento do dinheiro público na formação de qualidade dos profissionais médicos. Necessitamos de competência e humanismo à beira do leito e na prática diária junto aos pacientes, com o testemunho da presença do professor.
Dentro do ensino da medicina, não devemos estar preocupados apenas em transmitir o conhecimento, é preciso educar. O verdadeiro mestre sensibiliza o aluno sobre problemas sociais da comunidade, tendo em vista o compromisso como formador de opinião. Ensinar o indivíduo a aprender é a nossa obrigação.
Hoje sofremos de uma doença grave chamada “curriculite”, em que a patogenia é a vaidade provocada pela aquisição dos muitos títulos. A única saída para deixarmos de supervalorizar os “ratólogos” é a prevenção, porque essa doença, infelizmente, não tem cura.