No último mês de junho foi realizado nos Estados Unidos, o Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, o maior encontro médico-científico da atualidade, com a participação de 30 mil profissionais médicos e de diversos representantes da sociedade, além da indústria farmacêutica e dos centros de pesquisa. O destaque foi o tema central do encontro: o câncer, a segunda maior causa de morte natural no mundo. Em alguns lugares, já se tornou a maior causa, superando as moléstias cardiovasculares, ou seja, o câncer é hoje um grande desafio para saúde pública mundial.
O enfoque do congresso foi bem abrangente, tratando de temas que foram desde a prevenção e diagnóstico precoce, até os mais recentes avanços na área da biologia molecular dos tumores e a aplicabilidade nos tratamentos que vislumbram a cura, passando por políticas de saúde pública, alocação de recursos, formação básica nas escolas médicas e a troca de experiências entre profissionais de todos os continentes. O enfoque foi dado ao tema: “Inovar para evoluir”, o que é muito apropriado diante do fato de estarmos frente a um novo paradigma, que mudará dramaticamente a forma de encararmos a neoplasia maligna e que fará, inclusive, com que tenhamos que rever o próprio termo “Neoplasia maligna”.
A compreensão cada vez maior dos fatores e mecanismos envolvidos na gênese e progressão do câncer, tem nos colocado diante de uma nova janela de oportunidades, de intervenções cada vez mais direcionadas e eficazes e, com isso, menos deletérias ao restante do funcionamento do organismo.
Quando falamos ainda em tratamentos que visam “aniquilar as células cancerosas”, o novo conceito que surge é o que permite realmente “tratar” as células e tecidos que estão doentes e que precisam justamente dessa atenção, e não pura e radicalmente, serem “eliminadas”.
É dessa forma que, hoje, milhares de pessoas que convivem com a doença, que até meados dos anos 1990 eram fatais em poucos meses, tais como as leucemias crônicas, alguns tipos de tumores intestinais e, até mesmo, o temido câncer de mama. O reconhecimento dos fatores genéticos e das alterações cromossômicas adquiridas ou herdadas – e intimamente relacionadas ao câncer – permitiu criar o conceito de medicina personalizada, onde cada indivíduo com câncer seria portador de uma patologia quase que única, sem igual e que, por isso, necessita também de um tratamento exclusivo e direcionado, muito mais eficaz e seguro.
As políticas de saúde pública, como as campanhas de combate e desestímulo ao tabagismo, começam a diminuir as taxas de incidência de câncer de pulmão. A iniciativa é associada à melhor compreensão dos diversos mecanismos biomoleculares envolvidos nesse que é um dos maiores vilões da atualidade. Recentemente, em um encontro entre especialistas em cancerologia, realizado no Hospital Santa Cruz, em Curitiba, discutiu-se o grande avanço no tratamento do câncer colorretal, que é a terceira neoplasia mais incidente entre homens e mulheres.
Há pouco mais de 10 anos, quando diagnosticada em estágios mais avançados, inexoravelmente, levava o paciente ao óbito em um tempo médio de seis a oito meses. Hoje, com a incorporação de novos medicamentos, e os avanços das técnicas cirúrgicas, um número significativamente expressivo de casos é passível de cura e, a maioria dos pacientes, obtém uma expectativa média de sobrevida superior a dois anos.
Infelizmente, em muitos casos, ainda estamos engatinhando. É o caso dos tumores de pele do tipo melanoma, que ainda pouco podemos fazer nos dias de hoje, além de um diagnóstico precoce e tratamento cirúrgico agressivo. Mesmo para esse tipo de neoplasia, uma nova esperança está por vir. Em um estudo apresentado no Congresso, pesquisadores demonstraram pela primeira vez, em quase trinta anos, uma nova droga capaz de a,umentar a expectativa de vida de pacientes portadores desse tipo de neoplasia em estágios já avançados. Tal medicamento ainda não se encontra disponível para uso na prática clínica, mas os processos regulatórios para a sua aprovação e comercialização já foram iniciados, demonstrando a tamanha relevância dos resultados obtidos com o estudo.
A nós, cancerologistas, cabe o compromisso assumido no congresso, ou seja, o comprometimento com a busca incessante da qualidade de informação, a incorporação judiciosa das novas tecnologias, e o bom senso na prática diária, nos atualizando e buscando o melhor para os nossos pacientes.