Quantos médicos dedicaram suas vidas à profissão, na árdua batalha de curar os males das pessoas e, quantos de nós conhecemos seus nomes ou mesmo sabemos o que eles fizeram em vida. Júlio Sanderson, de saudosa memória, cirurgião emérito, orador brilhante e inteligente, cheio de entusiasmo e razão, propôs que fosse erguido em cada Estado um panteão dedicado aos que ele chamava de ?heróis de curar?. Justificava sua proposta fazendo confronto sutil aos monumentos já existentes dos heróis de guerra, apelidados por ele como ?heróis de matar?. Com efeito, do mesmo modo, deveriam merecer, também, o reconhecimento público e governamental por meio de monumentos instalados em praça pública ou em espaços culturais.
Quem, por exemplo, sabe que o criador da vacina antivariólica foi Edward Jenner (1749-1825) no ano de 1796. Quantos são aqueles que, quando se submetem a um exame de raios-x, podem se lembrar do seu descobridor William Roentgen (1845-1923), físico famoso que por essa descoberta foi, em 1901, agraciado com o Prêmio Nobel de Física.
E de René Theophile Hyacinthe, conhecido como Laënnec (1781-1826) cuja grande contribuição para o progresso da medicina, foi a invenção do estetoscópio, em 1815. A história nos conta que isso se deveu ao fato de se ver, o grande médico, em dificuldade para examinar uma senhora obesa pela aplicação do ouvido diretamente sobre o tórax da doente. ?Tomou então uma folha de papel enrolou-a sob forma de cilindro, colocando uma das extremidades sobre o peito da paciente e a outra junto ao ouvido.? (Azimov). Também é dele, a observação dos trabalhos dos vinicultores, que calculavam o nível do vinho nos tonéis, golpeando-os com uma vara de madeira, transferindo essa técnica simples ao exame físico, estavam incorporadas à propedêutica clínica a auscultação e a percussão, que permitiam o diagnóstico mais preciso das doenças dos pulmões e do coração.
Nesse roteiro sucinto, outros ?heróis? devem ser citados: Rudolf Virchow (1821-1902) o criador da patologia celular como base científica para a concepção da anatomia patológica. Karl Landsteiner que estabeleceu os sistemas ABO e Rh. Philippe Pinel, filho, neto e sobrinho de cirurgiões, foi o precursor da psiquiatria moderna, inaugurando a mitologia do novo saber, produzindo a primeira história da psiquiatria.
Pasteur, o criador da vacina anti-rábica, era químico e não médico, mas pelas suas experiências foi recebido na Academia de Medicina em 19 de Março de 1878. Carlos Chagas (1879 – 1934) descobriu a doença que leva seu nome. Márcio Almeida escreveu: ?A realização do memorial Carlos Chagas, anualmente, em Oliveira, terra natal do cientista que descobriu a doença, cujo inseto transmissor é barbeiro, muito mais que um evento é uma responsabilidade, um compromisso, um desafio?.
Poderíamos citar mais de uma dezena de outros heróis de curar, mas não é o que pretendemos com este artigo. Queremos isso sim, sensibilizar as autoridades municipais e estaduais para a justeza desse reconhecimento àqueles que praticamente deram suas vidas em prol da ciência, do saber e da cura de doenças.
Que tal se, pelo menos, em cada uma das capitais brasileiras pudéssemos erguer um ?Panteão aos Heróis de Curar?? Curitiba, que já tem o Farol do Saber, poderia dar o primeiro passo e um exemplo desse reconhecimento. Seria mais do que merecido!