Com frequência a imprensa retrata a preocupante elevação de denúncias de assédio moral de toda ordem encaminhadas pelo Ministério Público. A exposição de um tema de tamanha gravidade é sempre importante, pois nos leva a refletir sobre as implicações sofridas por portadores de transtornos mentais no ambiente de trabalho. Entre elas, o preconceito, a omissão, a falta de assistência e de acesso básico à saúde.
Estudo recente da Universidade de Brasília (UnB) e do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) mostra que o número de trabalhadores com problemas mentais vem aumentando nos últimos anos. Bancários, frentistas, motoristas, trabalhadores do comércio, metalúrgicos, rodoviários e transportadores aéreos aparecem entre as categorias de maior risco no levantamento, pela natureza de suas profissões.
Em maior ou menor proporção, essas pessoas vivem dramas muito parecidos. A princípio, omitem de suas chefias os primeiros sintomas de transtornos mentais, pois temem perda de cargo e até demissões.
Por outro lado, quando a necessidade do tratamento torna-se imperativa por causa do agravamento de sintomas decorrentes da depressão, esquizofrenia e transtorno bipolar, entre outros, o trabalhador não tem a quem recorrer. O diagnóstico dos transtornos mentais realizado em determinadas empresas é impreciso e não existe acompanhamento adequado.
Lidar com um portador de transtorno mental é uma tarefa ainda mais complexa dentro de casa, uma vez que a família carece de informação, de uma política básica de atendimento e de mais especialistas em psiquiatria. O Brasil conta com uma média de 2,8 desses profissionais para cada 10 mil habitantes. Determinadas regiões não possuem um psiquiatra sequer em um raio superior a 400 quilômetros.
Os mesmos dados da Universidade de Brasília que apontam para as principais profissões acometidas por transtornos mentais mostram outras estatísticas preocupantes. Pelo levantamento, quase 50% dos trabalhadores que se afastam por mais de 15 dias do serviço sofrem algum tipo de doença mental. Apesar dos indicadores aparecerem também nos registros do INSS, não existe contrapartida em investimentos feitos na área para cuidados aos pacientes.
Diante desse cenário, acreditamos ser urgente e necessário que se dê mais importância à saúde mental nas várias profissões. Que se atue na informação contra o assédio moral, buscando conscientizar os empresários sobre a importância da detecção e do tratamento precoce dos transtornos mentais.
No final das contas, esse conjunto de ações refletirá em boas chances de reabilitação, reduzirá o impacto econômico provocado pelos transtornos mentais e permitirá à empresa cumprir um importante papel social perante a comunidade.