Muitos de nós, em situação de grande tensão, desenvolvemos o que Freud denominava “neurose de angústia”, ou seja, um excesso de excitação descarregada no corpo, provocando respiração alterada, batidas aceleradas do coração, boca seca, sensação de morte iminente. Uma forte característica deste estado é a quase impossibilidade de elaborar pensamentos racionais, para traduzir, por meio da linguagem, o sentimento e os temores produzidos. Esses sintomas caracterizam o se chama hoje de síndrome do pânico.
À época do vestibular, muitos jovens precisam recorrer ao apoio psicológico por apresentarem tais sintomas. Isso ocorre em grande parte pela sensação constante de estar em situações de avaliação, tanto do ponto de vista social quanto pessoal; de estar sob o olhar de outros (professores, pais, restante da família, escolas, amigos). Tal fato conduz o jovem à perturbação psicossomática, trazendo a ameaça de uma possível derrota para o plano físico.
Vários autores e estudiosos da educação relatam o avanço da síndrome do pânico entre os jovens exatamente pela perda da capacidade de simbolizar o sofrimento em termos de linguagem e a imensa pressão desta fase específica da vida escolar. Além do medo de falhar, o medo de não escolher corretamente um curso que permita o exercício de profissão satisfatória e que traga boa perspectiva de realização profissional e financeira é, muitas vezes, paralisante.
Embora o cérebro seja dotado de plasticidade, isso é, de capacidade para adequar seus circuitos, moldar-se, adaptar-se em função do ambiente, a fase do vestibular para muitos termina sendo restritiva em relação às atividades físicas, que não deveriam ser diminuídas a menos de duas ou três horas semanais, à convivência pessoal com amigos e familiares, já que esta, quando existe, termina por ser virtual.
Considerar o papel social de sua futura profissão é uma necessidade e não uma opção. A figura do profissional fechado em seu laboratório ou escritório é ilusória. É quase impossível construir uma sociedade capaz responder às demandas econômicas, científicas, tecnológicas e aos desafios do país com pessoas isoladas e sem senso de comunidade, sem apoio e recursos.
Refletir sobre o curso escolhido deve significar ver-se atuando como o cidadão, como a pessoa que exercerá essa função, e se as características necessárias são existentes. Será muito difícil fazer sucesso exercendo oito horas diárias de atividades incômodas ou tediosas. Prazer é importante em qualquer profissão. Cientistas comprovam em pesquisas bem documentadas que pessoas felizes são melhores líderes, melhores amigos, mais solidários.
Equilíbrio é a chave. Estudar por algumas horas, todos os dias, é indispensável para atingir a meta de aprovação, mas é também importante o contato com familiares e amigos, o cuidado de plantas ou animais, as atividades que mantêm nossa conexão com o humano. Exercitar-se, alimentar-se bem, e cultivar a felicidade.