O governo federal enviou ao Congresso Nacional um projeto de lei que proíbe a prática do castigo físico em crianças. Se aprovado, pais, professores e cuidadores podem ficar proibidos de beliscar, empurrar ou mesmo distribuir “palmadas pedagógicas” em menores de idade. Um assunto que já vinha sendo discutido desde a Constituição de 1988.
Quase todas as pessoas, mesmo as mais controladas, exasperam-se com os filhos vez ou outra, mas os pais devem sempre ter em mente que sua irritação está mais fundada nele próprio do que com o comportamento da criança e devem usar esta ocasião para refletir e ensinar e não para castigá-la, verbal ou fisicamente. Por si só, o castigo físico apenas reprime e não ensina autodisciplina, não cria ou desenvolve o desejo de agir sempre certo.
Quando se fala em disciplina quase sempre se tem em mente a questão do castigo, embora a palavra não esteja necessariamente ligada à punição. O significado mais importante relacionado a ela, é o de instrução, de aprendizagem e autocontrole. A preocupação dos pais e, portanto de educadores, deve se prender primordialmente a educar o filho para que ele desenvolva ao longo da infância, o autocontrole. Isso é feito por meio da aprendizagem de habilidades, que se adquirem por estímulo à cópia de modelos comportamentais dos pais e da família, e não por agressão, autoridade ou ameaças.
Crianças são por natureza admiradoras de seus pais e “discípulos” naturais destes, o que resulta em uma responsabilidade muito grande para aqueles que não se comportam de um modo a despertar uma amorosa admiração de seus filhos.
A disciplina verdadeira e duradoura é criada por uma identificação contínua e profunda. Quando tal processo é supérfluo, baseado em modelos pouco fiéis a seus princípios, as crianças desenvolvem um autocontrole frágil e assim sempre precisarão de alguém que os regule, já que não sentirão a necessidade e nem a possibilidade de se controlar e agir certo em qualquer situação onde não sejam vigiados.
O castigo entra nesse ponto, onde a obediência é exigida e não o autocontrole, o que evidencia a crença dos pais de que a menos que seus filhos sejam forçados a fazer o que é conveniente para eles e para o momento, eles não o farão.
A punição acaba por tornar a criança menos cooperativa e aí se inicia um círculo vicioso, onde o adulto perde a paciência, o auto-respeito e o respeito pela criança e parte para a agressão física ou verbal, no desejo de reprimir o comportamento infantil.
O castigo não leva em conta a necessidade real de se dar a oportunidade à criança de agir bem, repensar seus atos, palavras e comportamentos, de se sentir amada e respeitada ao longo de seu crescimento. Uma palmada pode parecer pouca coisa a quem a dá, mas, com certeza, muito para quem a recebe, principalmente porque nesse momento o respeito e a educação disciplinar passou longe dessa relação.
Com lei, sem lei ou apesar da lei que nos proíbe de darmos palmadas em nossos filhos, é fundamental lembrarmos que crianças crescem tendo seus pais como modelos e que a agressividade, física ou verbal, aponta a onipotência, a fragilidade e a insegurança dos adultos.