A culpa pode ser definida como uma tristeza que deriva de a pessoa sentir-se causadora de um dano indevido à outra. Podemos causar o dano de modo involuntário – ao atropelarmos uma pessoa, por exemplo – ou, então, como reação deliberada a alguma maldade da qual no sintamos vítimas. Poucas são as ações agressivas gratuitas, e quem as pratica não sente culpa, que é consequência da capacidade de nos colocarmos no lugar de outra pessoa e imaginarmos o que ela está sentindo.
Quando o fato é concreto, como os descritos acima, é fácil saber se somos ou não culpados. Porém, existem muitas situações bem menos claras. Se um parceiro sentimental se sente ofendido porque o outro não agiu de uma determinada forma, isso pode significar que, de fato, este último foi indelicado ou mesquinho. Mas também pode querer dizer que aquele que ficou irritado fazia exigências absurdas e se aborreceu porque não foram atendidas.
Quando aquele que não atende às exigências absurdas sente culpa, pensa e sente de forma equivocada. Ele está sendo objeto mesmo é de chantagem sentimental: provocar a culpa no outro para que ele satisfaça um desejo ao qual não tem direito. Ele é vítima de uma pressão indevida. O vilão é o chantagista.
Observamos aqui, de forma dramática, as consequências do erro de nos colocarmos no lugar do outro. Esse outro pode não ser tão leal conosco e irá se aproveitar de nossa forma de ser para, pela via dos sentimentos de culpa, extrair de nós o que não lhe devemos.
Texto retirado da obra Superdicas para viver bem e ser mais feliz, de Flávio Gikovate, Saraiva, São Paulo, 2006.