Desde os tempos mais remotos, quando algo errado acontecia ao corpo humano e parte dele precisava ser extirpado, a cirurgia iniciava sua história. Os avanços seguiram seu caminho, obtendo transformações inimagináveis a cada década. Hoje, a cirurgia é minimamente invasiva, ou seja, a intenção é que se corte o mínimo possível e, se possível, não se corte quase nada.

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Já dispomos das técnicas que há 20 anos eram chamadas revolucionárias, mas que agora são consideradas triviais. Já utilizamos de rotina no Brasil, equipamentos de última geração, que aliados a um treinamento adequado, nos permitem operar com precisão absoluta. Operar-se por via aberta, ou seja, com os grandes cortes, não só está fora de moda, como também não mais se justifica na maioria das ocasiões. As cirurgias “dos furinhos”, também chamadas cirurgias “por vídeo”, têm o apelo, além da vantagem estética, da menor agressão ao corpo humano. É isso que possibilita aos pacientes retomarem sua vida mais rapidamente, com dor e necessidade de internação menores. Essas características estão muito melhor adaptadas aos anseios da sociedade atual, do que o que se costumava praticar como cirurgia.

A cirurgia minimamente invasiva não mais concorre com a cirurgia convencional, porque já se provou melhor. Permanecem algumas indicações para cirurgias abertas, como transplantes, cirurgias de urgência no trauma, mas, mesmo as especialidades mais resistentes, pela dificuldade de adaptação às técnicas menos invasivas, estão cedendo ao apelo da sociedade e do mercado médico. É o caso, por exemplo, das cirurgias cardíacas e das neurocirurgias.

Nós, cirurgiões, precisamos cada vez mais da modernização dos equipamentos que, apesar de onerar os procedimentos cirúrgicos, diminuem exponencialmente seu risco. Ser operado hoje não tem a mesma conotação do passado recente. Não é mais necessário se despedir da família (pelo menos na maioria das vezes), nem tampouco avisar no trabalho que naquele ano você não volta mais. Tudo ficou mais simples, mais rápido e, como na arte que é, a cirurgia ficou mais minimalista e menos pomposa. Sinal dos tempos.

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O futuro nos reserva, com certeza, cirurgias precisas e, em alguns casos, sem cortes. Está em desenvolvimento a cirurgia por orifícios naturais. É o princípio de se operar algo usando as vias de acesso naturais para o interior do corpo. Interessante em algumas situações e pouco adaptada em outras, esse tipo de tecnologia ainda vai encontrar e definir seu espaço. Também, a minilaparoscopia, vem se tornando cada vez mais simples e de aplicação imediata. O princípio é o de se utilizar instrumentos muito finos, o que faz da cirurgias “dos furinhos” uma cirurgia de furos ainda menores, que não precisam nem ser fechados. É como se você fosse operado com algumas agulhas, que após serem retiradas, praticamente não deixam marcas.

O futuro próximo deve possibilitar o acesso universal a essas tecnologias, facilitando o seu uso por toda a população, fato que já acontece em hospitais que atendem pelo Sistema Único de saúde (SUS).

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