Acho engraçado que após 13 anos de franco uso da toxina botulínica no Brasil, com tantas citações e matérias nos meios de comunicação, tantos mitos, mentiras e mistérios ainda persistam acerca deste procedimento. No consultório (e fora dele), respondo perguntas sobre ?boca de botox?, muito ou pouco botox, ?rosto de botox?, ?creme de efeito botox? e constato que as pessoas, de modo geral, pouco sabem sobre esse importante avanço representado pela toxina botulínica na preservação e manutenção da aparência.
Esta toxina, uma proteína produzida por bactérias, aplicada de forma precisa em grupos musculares previamente estudados, consegue eliminar rugas da testa, da lateral dos olhos, melhora a flacidez do pescoço, ergue o canto dos lábios e as sobrancelhas, conferindo uma expressão mais jovial. Esta especificidade faz, por exemplo, que nunca possa existir um ?creme botox?, pois o produto atingiria todo o rosto e o resultado, com certeza, na agradaria ninguém.
Além disso, a toxina botulínica ajuda a tratar com eficácia alguns distúrbios, como a hiperidrose, o incômodo da transpiração excessiva nas axilas, palmas das mãos e pés, combate o estigma dos tiques nervosos e, até mesmo, de algumas paralisias faciais. Outros usos na medicina em geral: estrabismo, dores de cabeça, incontinência urinária, paralisias de mão e braços e até mesmo vaginismo (casos de mulheres que contraem tanto a vagina que impedem o relacionamento sexual normal).
A aplicação do botox deve ser feito por um médico especializado e treinado. O tratamento deve ter indicação individual (?sob medida?), de maneira personalizada. Talvez essa seja uma das razões para não afirmarmos se há muito ou pouco botox e, sim, que a toxina foi bem ou mal aplicada.
Existem, sem dúvida, profissionais menos habilidosos, com menor senso estético que extrapolam na aplicação. Este refinamento e análise dos conceitos de beleza dependem não só da habilidade técnica em medicina, mas também da cultura geral, do conhecimento de Arte e, até, da História. A falta de noções de harmonia pode ocasionar resultados discutíveis que, inclusive, podem se tornar caricatos em pouco tempo.
A toxina botulínica também não serve para aumentar nenhum tipo de volume corporal. Assim, lábios cheios demais decorrem, provavelmente, de muito preenchimento (materiais injetáveis que são usados para preencher rugas e aumentar volumes). Nada a ver com botox.
O efeito desse recurso estético dura, aproximadamente, de quatro a cinco meses. Com o passar do tempo, repetindo-se as aplicações, a musculatura se condiciona, os efeitos se prolongam por mais tempo, passando-se a necessitar menos aplicações. Os intervalos também podem se tornar mais espaçados.
Louva-se ou critica-se veementemente o botox. Até mesmo, existe certa hostilidade contra quem se vale do tratamento para sua satisfação pessoal. As pessoas não devem se sentir culpadas por buscarem uma melhor aparência. Por seu lado, o médico deverá fazer o que for melhor para atender as necessidades e anseios de seu paciente, com o máximo de segurança, menor gasto, sem vulgaridade ou padronizações.