Cesar Pazinatto, biólogo, pós-graduado em
Dependência Química.

?Você já foi a uma festa de 15 anos? Já. Tinha bebida alcoólica? Claro! Festa sem bebida não tem graça. E não é só em festas de 15 anos que tem. Em festas de 14, 13 anos também rola bebida alcoólica. É sério? Professor, em que mundo você vive?? Tive o primeiro diálogo com alguns alunos de 11 e 12 anos e, todas às vezes, ele terminou igual. Aquele ?claro!??, dito com naturalidade, não me surpreendeu.

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Entretanto, o que causa espanto é o fato de essas crianças comentarem que seus pais, ou pais de amigos, fornecem, autorizam e toleram o consumo de álcool nas festas.

Não podemos concordar com essa ?normalidade? absurda e perigosa. Não devemos aceitar como sendo normal uma menina de 14 anos ir a uma festa, num desses lugares da moda, e menos de duas horas depois chegar a um hospital totalmente intoxicada. Detalhe importante: a festa era promovida por um garoto de 16 anos e a cerveja era gratuita. Esse detalhe também é normal? Para os proprietários desses estabelecimentos e, o que é pior, para alguns pais, parece que é.

Em um estudo realizado na Universidade de Melbourne, os autores afirmam: ?a opinião conservadora e tradicional garante que os menores de 18 anos não devem beber, pois ainda estão em pleno desenvolvimento físico e psicológico?. Esse estudo acompanhou adolescentes ao longo de sete anos e concluiu que beber freqüentemente e mesmo os porres esporádicos está fortemente associado com a dependência de álcool na vida adulta.

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Famílias que não acham nem um pouco normal um adolescente beber, ficam muito angustiadas com a próxima festa da temporada. Julgam-se caretas e despreparadas para lidar com os argumentos fáceis e imediatistas de seus filhos ou, então, não querem ouvir mais uma vez: ?mas mãe, todo mundo vai?; ?você é a única que não deixa chegar tarde da balada?.

Esse ?você é a única…? na maioria das vezes é um argumento mentiroso. Um pouco mais de comunicação entre as famílias que se conhecem mostraria isso. Um pouco mais de apoio entre essas famílias derrubaria esse argumento e ajudaria a evitar que os adolescentes fossem submetidos à ambivalência de opiniões, descrita no trabalho australiano.

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A escola está pronta a colaborar e faz isso de várias formas. Algumas possuem programas voltados para a promoção de saúde e prevenção às drogas. Programas de várias formatações buscam trazer essa importante discussão para o ambiente escolar. Além disso, parece que o poder público, finalmente, também vai colaborar. Em agosto deste ano, o Ministério da Saúde lançou a campanha ?Bebida alcoólica: conheça os riscos. Seja responsável?. Os filmes são interessantes, pois, reproduzindo a estética das propagandas de cerveja, mostram situações mais próximas da realidade que envolve o consumo de bebida alcoólica entre os jovens.

A campanha do Ministério da Saúde pode servir de alerta para essa questão, mas de nada vai adiantar se o governo desta vez não se preocupar também em discutir uma política pública séria e responsável sobre o consumo de álcool entre os adolescentes.