Osvaldo Luiz, jornalista e radialista.

O grande desafio das campanhas que ajudam a esclarecer e orientar a população sobre a aids é continuar despertando a atenção das pessoas ao longo do tempo. É natural que, depois de anos, se passe a achar o assunto conhecido, entendido. O Dia Mundial de Luta contra a Aids, comemorado em 1.º de dezembro, é um exemplo bem-sucedido de campanha. Em 20 anos, são poucas as pessoas, penso, que não reconhecem seu símbolo: o laço vermelho. Este ano, inclusive, ele serviu de adorno para uma das maravilhas do mundo: a estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.

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Ano após ano, grandes eventos marcam a data. Peças publicitárias reforçam a luta por meio de TV, rádio, internet, jornais e revistas. Apesar disso, pesquisa realizada recentemente pela Mac Aids Fund em nove países, inclusive o Brasil, apontou que nada menos que 40% dos entrevistados acreditavam que a aids não é uma doença fatal.

Vale lembrar alguns números: até a meia-noite de hoje, mais 6.800 pessoas terão contraído o vírus HIV no mundo e 5.700 não resistirão à doença. Se é verdade que as estatísticas mostram uma estabilização nos números de infectados e de mortes, eles ainda são assustadores! Apesar de, cada vez mais, ser possível sobreviver com a distribuição do coquetel anti-aids, o Brasil não é bem o melhor lugar para se tratar da doença. Quando não falta o coquetel, falta distribuição de medicamentos contra as doenças ?oportunistas?, as que de fato levam o soropositivo ao óbito. Faltam, também, leitos para os doentes e até médicos especialistas (infectologistas). Isso sem falar do resistente preconceito em escolas e locais de serviço.

Segundo a pesquisa Mac, a maioria das pessoas ainda não se sente à vontade para interagir com portadores. Este ano, os alvos da campanha serão os jovens entre 14 e 24 anos. Hoje são eles que mais preocupam as autoridades. Dados apontam que mulheres nessa faixa de idade ainda se mostram bastante vulneráveis. Já a preocupação com o sexo masculino é maior entre os que têm relação homossexual. Assim, as propagandas na TV serão mais direcionadas a esses públicos.

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Como de costume, a camisinha assume papel principal na campanha. Lembra daquela idéia de máquina de preservativos nas escolas? Foi feito um concurso entre alunos e o governo está divulgando o projeto vencedor. As divergências se situam na utilização do preservativo.

Cristãos divergem da maneira como as propagandas são desenvolvidas, que estimulariam a promiscuidade. Nesse debate não haverá uma luz no fim do túnel em curto prazo. A Igreja não irá mudar seus conceitos quanto à sexualidade e planejamento familiar e as autoridades no assunto continuarão apostando todas suas fichas na camisinha. No entanto, uma queixa pode e precisa ser superada. A de que os católicos fazem pouco. Apesar da existência de importantes ONGs ligadas à Igreja atuando na assistência de doentes e órfãos, pode-se fazer mais.

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Paróquias, pastorais, grupos de oração precisam assumir uma atitude de prontidão para acolher, defender, servir e prevenir. Omissão é grave. Sem abrir mão de nossos conceitos e identidade, precisamos traduzir para tantos a misericórdia. Expressar solidariedade. Os debates continuarão, mas não podem ser maiores que nossos braços abertos. Como o Cristo Redentor, abertos a todos.