Esmola não dá futuro

Na Inglaterra, tempos atrás, uma mendiga pegou três meses de prisão por seu jeito atrevido de mendigar… apesar da grita dos protetores dos direitos humanos… de bandidos.

Dia desses, vinha eu com minha mulher trafegando pela rua Carlos Cavalcanti. Avistei, de longe, o semáforo passar para o amarelo e reduzi a marcha, para não ter de parar na esquina com a Rua Barão do Cerro Azul. Ali estava um grupo de negros altos, magros, cabelos compridos caindo nos ombros, em longas tranças. Já os conhecia de outras esquinas, com seu jeito afeminado e escandaloso de ser, bem como seus métodos pouco ortodoxos de mendigar. Dizem-se aidéticos, e em nome deles querem extorquir, digo, angariar recursos. Um deles veio em minha direção e depois foi caminhando ao lado do carro – já que trafegava devagarinho – recitando seu discurso de sempre. Eu já ouvira, outras vezes, a mesma cantilena e não estava disposto a conversar com um sujeito que não respeitava minha privacidade. Eu estava quieto em meu canto. Só não queria ser importunado. Pensei que tivesse esse direito… Ele começou o discurso, sem saber se eu o escutava, pois os vidros do carro tal como aconselham os órgãos policiais estavam providencialmente fechados. No começo, foi mais ou menos educado.

Depois, foi-se alterando, foi-se enfurecendo, até que começou a xingar-me com palavras de baixo calão, e esmurrar violentamente o vidro da porta do motorista ou seja, da minha porta. Comecei a ficar preocupado. Se o sujeito quebrasse o vidro, será que eu poderia desferir-lhe um tiro nas fuças? Nesse caso pensei eu seria linchado, física ou moralmente, pela turma dos direitos humanos… Mas, não seria legítima defesa? E o bendito sinal, que não abria… Ah! Graças a Deus! Abriu-se para o verde e, assim, pude fugir de uma situação constrangedora. Pois, a essas alturas, meu algoz já estava aos berros, e me desafiava a atirar nele! Queria morrer! Tornar-se herói, mártir por sua nobre causa…

Outro dia, aconteceu na mesma esquina, ao anoitecer. Eu não queria mais passar por aquele mesmo cruzamento fatídico (da Rua Carlos Cavalcanti com Barão do Cerro Azul), nunca mais. Todavia, não sei o que aconteceu e, como num pesadelo, ali estava eu de novo agora, com meu irmão do meu lado, no automóvel encurralado entre a esquina e o sinal vermelho. Em minha direção, veio uma moça morena, decentemente vestida, pedir esmola. Dessa vez, não sei quem eram os beneficiários de eventuais donativos. Não abri os vidros do carro. Ela começou a pedir educadamente, depois foi-se alterando e, no final, começou a xingar-me em altos brados, com nomes feios, mandando-me para lugares pouco recomendáveis… Abriu-se, finalmente, o sinal e pude safar-me são e salvo. Mas, levando na alma uma revolta incontida. Um sentimento misto de raiva e de impotência. Uma vontade louca de voltar ali e desferir uns bons e pedagógicos petelecos naquela mendiga (de araque) importuna, grosseira e atrevida.

Será que não se pode mais ter sossego, nesta cidade?

Eu concordo plenamente com o poder municipal, em que “esmola não dá futuro”. Não dá mesmo! Mas, é preciso exercer uma fiscalização eficiente. Por falar nisso, algumas placas com essa inscrição já foram derrubadas por vândalos provavelmente esses marginais que infernizam nossa vida em todas as esquinas, ameaçando-nos e extorquindo-nos.

Lembro àqueles que se apiedam desses pedintes, que muitos deles são impostores procurados (e não encontrados…) pelos órgãos policiais.

A propósito, a polícia devia dar uma olhada na esquina citada e em outras do anel central, como aquela em frente à Prefeitura, em carro “desbaratinado”, para flagrar esses bandidos.

Sabem? Estou perdendo o ânimo para sair de casa, a pé ou de carro! Eu já estou perdendo a paciência! E você, não?

Albino de Brito Freire é Juiz de Direito aposentado, é da Academia Paranaense de Letras.