Não é de hoje que o cinema brasileiro vem repercutindo no exterior, ganhando notoriedade e ótimas críticas por especialistas. Ainda mais no cinema de gênero. O horror, por exemplo, vem ganhando cada vez mais produções e destaque por onde passa. É o caso de As Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marcos Dutra, estrelado pela curitibana Marjorie Estiano; também de O Nó do Diabo, longa dirigido por cinco cineastas que revelam os problemas causados na escravidão; e o longa cearense O Clube dos Canibais, de Guto Parente. Todos bem elogiados e reconhecidos no exterior e que, depois de alguns anos, começaram a ser prestigiados no Brasil.

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Agora é a hora e a vez de Morto Não Fala estrear no Brasil. Trata-se do primeiro longa-metragem de Dennilson Ramalho, cineasta conhecido por ser corroteirista e assistente de direção do filme A Encarnação do Demônio, de José Mojica Marins, o famoso Zé do Caixão, que é estrelado por Daniel de Oliveira (Os Dias Eram Assim), Fabiula Nascimento (Bom Sucesso), Marco Ricca (Órfãos da Terra) e Bianca Comparato (série 3%).

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O filme já foi lançado via streaming nos Estados Unidos, Austrália, Alemanha e nos cinemas da Rússia e no México, chegando apenas hoje nos cinemas brasileiros.

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Baseado em um conto policial de Marco de Castro, o longa mostra a história do médico legista Stênio, interpretado por Daniel Oliveira, que trabalha no período noturno no IML de São Paulo e tem o dom paranormal de conversar com os mortos. A comunicação com o além traz segredos e revelações, que desencadeiam uma maldição trazendo perigo às pessoas em sua volta.

Profundo, bizarro e reflexivo, Morto Não Fala discute o perigo social da realidade brasileira em uma trama alegórica, cheio de suspense capaz de impressionar todo o público. A estética acinzentada e esfumaçada revela a profundidade emotiva de Stênio. Os efeitos sonoros são perturbadores e caóticos. A produção é estupenda, cheia de cuidado e referências às grandes obras de sucesso do gênero horror. Assista ao trailer:

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Daniel de Oliveira entrega um protagonista introspectivo, melancólico e perturbador. Seu crescimento é notório em meio a grandes reviravoltas. Já Fabiula Nascimento revela uma esposa dramática e odiada, que, mesmo enfrentando os problemas causados pelo patriarcalismo, tem um tom maquiavélico e plausível. Já Bianca Comparato é sutil em sua interpretação, mas sua personagem ganha força ao longo da trama.

Aliás, outro destaque do longa é o roteiro. Escrito pelo próprio Ramalho, junto com Jorge Furtado e Cláudia Jouvin, o crescimento e amadurecimento dos personagens, a discussão retratada na trama o fechamento cheio de suspense do enredo são contundentes. As cenas ágeis e diálogos críticos também merecem reconhecimento.

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O cineasta consegue trazer um cinema crítico de gênero já presente nas elogiadas obras brasileiras, como O Animal Cordial, de Gabriela Amaral Almeida, Trabalhar Cansa, da dupla Julia Rojas e Marco Dutra e O Som ao Redor, filme de Kleber Mendonça Filho.

Enfim, há quem diga que Morto Não Fala começou como um projeto para série da TV Globo, mas que acabou sendo transformado em filme. A ideia foi boa, mas espero que o canal carioca retorne com a proposta inicial, já que a própria trama tem muito a ser esmiuçada.

Avaliação: ⭐⭐⭐1/2
Pra quem gosta:
 terror
Pra assistir: 
amigos, crush  e sozinho
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 O Clube dos Canibais, Mangue Negro e A Sombra do Pai