“As Boas Maneiras” faz crítica social em um terror requintado

Juliana Rojas e Marco Dutra mais uma vez entregam um filme que merece um olhar especial. Após se destacar com o longa “Trabalhar Cansa” (2011) – que inclusive teve sua exibição no Festival de Cannes, na sessão Um Certo Olhar – a dupla apresenta “As Boas Maneiras”, longa brasileiro com co-produção da França.

As Boas Maneiras” retrata o convívio de Ana (Marjorie Estiano) – uma mulher de classe média alta que esta preste a dar a luz – e Clara (Isabél Zuaa) – enfermeira que mora na periferia São Paulo e que foi contrata para trabalhar como empregada na casa de Ana. Conforme a gravidez vai avançando, Ana começa a ter comportamentos estranhos e hábitos noturnos bizarros que afetam o trabalho de Clara. O longo é divido em duas partes, a gravidez e o crescimento do bebê de Ana. Confira o trailer:

Filme "Grave" (2017)
Filme “Grave” (2017)

Ao ver o filme, pude perceber várias semelhanças com produções atuais e até mesmo com clássico de uma série americana de muito sucesso dos anos 90. “As Boas Maneiras” é um terror requintado, psicológico e sem exagero e sustos clichês. Chega a ser tenso igual ao elogiado “Grave” (2017) – filme polêmico francês sobre uma adolescente vegetariana que vai a faculdade e começa a ter hábitos estranhos após experimentar carne. Outro exemplo é “Cargo” (2018) – produção original da Netflix – os sustos estão em segundo plano e a relação de Clara com o filho de Ana é levado de forma afetiva. E pra fechar, o último episódio da segunda temporada de “Contos da Cripta” é o exemplo perfeito da criança que não entende porque ele é diferente das outras. Ah e também “Melanie: A Última Esperança” que cabe perfeitamente na construção de relacionamento.

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Cena de "Contos da Cripta", capítulo "O Segredo".
Cena de “Contos da Cripta”, capítulo “O Segredo”.

Outro ponto importante tratado no filme é sua crítica à sociedade e valores sociais. Ana vive de aparência, esconde seus problemas psicológicos. A convivência com Clara representa a relação do Brasil antes da abolição da escravidão, onde a empregada servia para resolver e ajudar o problema de sua patroa.  Fato que inclusive se pode observar até hoje. O negro ainda vive na senzala, vulgo favela; e os brancos na casa grande, a.k.a bairro nobre.

As Boas Maneiras” mostra que há sim boas produções brasileiras no gênero terror com roteiro bem construído e que revela como uma simples história sobre lobisomem pode ser uma bela crítica à sociedade burguesa brasileira de hoje.

Cena do filme "As Boas Maneiras". Foto: Reprodução
Cena do filme “As Boas Maneiras”. Foto: Reprodução

As Boas Maneiras” estreia nesta quinta (07) nas salas de cinema de Curitiba.

Avaliação: ⭐⭐⭐⭐
Pra quem gosta: Terror
Pra assistir: amigos ou sozinho.
Filmes/Séries semelhantes: “Bom Dia, Mamãe”, “Grave” e “Melanie – A Última Esperança”.

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