O homem que trabalhava em silêncio

Chegava por volta das 17h, mas não ia para o seu lugar. Rodrigo Marchesini de Freitas entrava direto na sala do então diretor de redação da Tribuna, Carlos Roberto Tavares, o Charles.

Ali faziam a preleção diária dos principais assuntos policiais do dia. Charles separava uma pilha de laudas com as principais reportagens policiais e trocava ideias com Rodrigo, que comandava a editoria.

Introspectivo e discreto, este era o momento em que Rodrigo mais falava, sobretudo porque estava na presença do seu chefe e amigo de longa data. Também falavam sobre o futebol: Charles era coxa-branca até na alma e Rodrigo atleticano roxo. Curioso que isso nunca tenha sido motivo de desavença entre eles.

É uma lembrança triste porque quando trago à tona estas memórias do meu amigo e companheiro de trabalho, o faço por questão da sua morte ocorrida na última segunda-feira (11), depois de passar meses em uma UTI. Fomos vizinhos de mesa na antiga redação das Mercês, ao lado da também editora Sueli Saeko.

Depois da reunião com Charles, Rodrigo sentava em seu lugar, afastava a Olivetti, acendia um cigarrão 100 milímetros e se debruçava na silenciosa tarefa de correção dos textos. Prezava a forma simples e direta de escrever e tratava de colocar as vírgulas nos lugares certos.

Quando Charles morreu de forma repentina em 2002, Rodrigo foi o fiel da balança na transição delicada do comando da Tribuna, que foi entregue a Rafael Tavares, sobrinho de Charles. Adiou a aposentadoria para dar apoio aos companheiros naquele momento difícil para todos. E depois se afastou discretamente, sem alarde.

A última vez que o vi foi num restaurante perto de casa em 2014. Aparentava boa saúde. Perguntou quando eu voltaria a escrever na Tribuna. Ele se referia aos períodos que em que eu cubro as férias do Edilson Pereira escrevendo crônicas. Não perdi a oportunidade de fazer uma piada: – Então é você quem lê?, perguntei-lhe.

O jornalismo para Rodrigo foi uma coisa atávica. Isso porque seu pai Waldemar Rodrigo de Freitas, também foi jornalista. Ele pouco conheceu o pai e a mãe: ficou órfão aos 3 anos de idade. Ao entrar no curso de Direito da UFPR, com 18 anos, já começou a trabalhar na Tribuna do Paraná, então dirigida por Fernando Camargo e secretariada por João Féder. No jornal permaneceu por quase quatro décadas, até se aposentar.

Paralelamente, foi assessor de comunicação em vários órgãos públicos estaduais e, durante muito tempo, na Imprensa Oficial do Estado do Paraná, assessorou o diretor jornalista Freitas Netto, seu tio.

Sempre desempenhou as suas funções, quer no jornalismo, quer no serviço público, com responsabilidade e competência. Deixa viúva Regina Setim Freitas e os filhos Cristina e Luciano, além de três netos.

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