O Natal está chegando e para entrar no clima você leva seu filho pequeno ao shopping para tirar fotos com o Papai Noel, mas quando chega ao local dá de cara com o bom velhinho fumando um belo de um cachimbo. Assombro total! Não importa se o fumo é importado, daqueles aromatizados que custam caro. A reação da maioria dos pais será de afastar as crianças dali porque Papai Noel fumante é má influência para os pequeninos.
Nem sempre foi assim. Folheando uma biografia de Thomas Nast, o famoso ilustrador e cartunista alemão naturalizado norte-americano, descobri que Papai Noel nasceu fumante. No século 19, Nast foi o autor da primeira representação gráfica de Papai Noel, ou Santa Claus, como os americanos o chamam. O seu trabalho unificou os muitos personagens das inúmeras lendas acerca de Papai Noel, incluindo a figura de São Nicolau, cuja personalidade generosa e altruísta moldou o espírito de Natal.
Thomas Nast concebeu o bom velhinho já com a protuberante barriga, longas barbas brancas e as roupas nas cores vermelho e branco. Na mão direita um grande cachimbo fumegante, algo inconcebível para os dias atuais com tantas leis antifumo e com a proliferação de patrulhas antitabagistas.
Mas naquele tempo não dava nada. As pessoas fumavam o tempo todo ignorando o fato de que o hábito traria sérios problemas à saúde. Tanto que com cachimbo e tudo, o Papai Noel de Nast inspirou uma campanha avassaladora da Coca Cola nos anos 1930.
A potência do setor bebidas não foi a única a pegar carona no trenó. Toda a atividade econômica, especialmente o comércio, se beneficiou disso o que não acho que seja algo condenável. A troca de presentes é a oportunidade que se tem de demonstrar afeto a quem amamos. E alguém tem que fazer estes presentes e é justo que seja pago por isso.
O problema é quando o presente vira um fim em si mesmo. Aí a coisa fica sem sentido. Seria o mesmo que tocar o horror o ano todo porque no dia 25 de dezembro tudo se resolve com um vale presente. Não é por aí.
A figura do Papai Noel para os cristãos de hoje representa o altruísmo, a bondade e alegria que permeia a celebração no nascimento de Cristo. Eis aí motivos de sobra para se atribuir um significado mais nobre ao Natal do que a mera troca de presentes, mesmo para quem é de outras religiões.
Porque promover boas ações em benefícios de outros, sem esperar nada em troca é uma linguagem universal e já era exercitada – quem diria -, até pelos bárbaros. No rigor do inverno de dezembro, os povos que habitavam o Velho Mundo faziam várias celebrações para compensar o frio e conseguir comida. Foi assim que surgiu a lenda do Velho Inverno, um senhor que batia na casa das pessoas pedindo por comida e bebida. Reza a lenda que aquele que atendesse o homem com generosidade desfrutaria de um inverno mais ameno.
No rastro do Velho Inverno, décadas depois surgiu a lenda de São Nicolau, que viveu entre os séculos 3 e 4 da Era Cristã. Além da fama de milagreiro também era generoso com os pobres e as crianças. São Nicolau foi um monge de origem turca e consta entre seus feitos o fato de ter salvado três jovens de serem vendidas à prostituição pelo pai porque este não tinha dinheiro para pagar os dotes de casamento das filhas. Ao saber disso, o santo providenciou três saquinhos de moedas de ouro e assim livrou as três garotas do destino cruel.
Dinheiro não era problema para São Nicolau porque ele nasceu no seio de uma família de muitas posses, mas nunca embarcou na onda ostentação. Preferiu desde cedo se dedicar à educação religiosa e abriu mão de todas as vaidades. Ao contrário dos outros nobres, São Nicolau gostava de ajudar os outros, dividindo o muito que tinha com eles. E fazia isso com a maior discrição. Ele costumava fazer doações anônimas em moedas de ouro, roupas e comida às viúvas e aos pobres.
E olha só de quem o bom velhinho herdou o gosto por descer pelas chaminés: São Nicolau colocava os presentes das crianças em sacos e os jogava dentro das chaminés à noite, ,para serem encontrados por elas pela manhã. As crianças ficavam maravilhadas e logo descobriam quem era o seu benfeitor. Esta tradição tornou o santo amigo das crianças e séculos mais tarde foi incorporada aos festejos natalinos, ligando o santo ao nascimento do Menino Jesus.