As motos do barulho

Quem mora nas imediações da ‘rápida do Portão‘, que compreende Água Verde, Vila Izabel e próprio Portão, já deve ter percebido e principalmente ouvido, o barulho infernal que os motoqueiros costumam fazer por ali. Não são os motoboys de entregas. Esses usam máquinas mais modestas, uma ou outra é um pouco mais barulhenta, mas nada se compara ao urro estridente das superesportivas, que são ‘pilotadas‘ por jovens naquela região.

O movimento mais forte ocorre nos finais de semana, a partir de sexta-feira quando as baladas bombam na cidade. Aí as motos rasgam o asfalto da Avenida Guararapes de forma ruidosa. Motos precisam fazer barulho, caso contrário se tornam ‘invisíveis‘ para pedestres e motoristas e aí o risco de acidentes aumenta exponencialmente. Mas existe limite estabelecido por lei para isso. Só que leis no Brasil, vocês sabem como funcionam, não é?

Tudo isso é muito pouco para deter o culto ao barulho do motor, do qual estes jovens parecem ser devotos. Existem escapamentos de titânio na praça, acoplados a ponteiras com fibra de carbono, que além de aumentar a potência (e precisa?), fazem um escândalo memorável. Para quem está pilotando, a sensação é de poder ao acelerar um motor poderoso. Já aqueles quem têm outras prioridades na vida, passam pelo martírio de ter que suportar esta verdadeira insanidade.

Alguém pode questionar se não tem radares na rápida do Portão, que possam frear o ímpeto dessa tribo. Tem sim, mas todo mundo já decorou onde eles ficam. Tem um ‘pardal‘ que fica logo depois do Supermercado Angeloni. E depois só tem outro nas proximidades do Hospital do Trabalhador. Sobra um trechão para acelerar à vontade e o risco zero de ser parado por algum guarda.

É uma irresponsabilidade porque além do Angeloni, tem outro supermercado na região. Há intenso movimento de pessoas por ali, atravessando aquela movimentada avenida. Outro fator que merece atenção é que os carros circulam em velocidade mais baixa, já que muitos estão entrando ou saindo dos estabelecimentos. É uma área comercial, densamente povoada, com inúmeros prédios residenciais (e novos estão sendo erguidos), além de residências, mas nada parece demover os intrépidos motoqueiros na sua sanha de acelerar cada mais vez forte entre um sinal e outro. Fazem rachas para tirar a teima de qual máquina é mais potente. Fico imaginando se eles aguentariam fazer uma viagem de três horas com suas máquinas barulhentas, sem protetor de ouvido.

Na questão do barulho, infelizmente creio que não há saída, a não ser usar as economias para colocar vidro antirruído em toda a casa. No caso do abuso da velocidade, uma atitude pode perfeitamente ser tomada pelos órgãos competentes. A Setran e o BPTRAN não conseguem estar em todos os lugares ao mesmo tempo, mas tenho certeza que com planejamento podem realizar blitze ali e em outros locais da cidade, que mereçam a atenção dos órgãos de trânsito.

Campanhas educativas infelizmente não adiantam. Quem tem este tipo de comportamento só vai ‘aliviar‘ se tiver o bolso ameaçado. Já pensou ter a moto apreendida? Seria o mesmo que tirar o doce da criança, com o perdão dos pequeninos, que nada tem a ver com isso. Boa parte dos problemas que o país enfrenta decorre da omissão das autoridades. Se a estrutura de fiscalização fosse mais presente e melhor aparelhada, os delitos seriam reduzidos pela metade só pela inibição. Para isso precisa mudar a cultura de agir só depois que o desastre já aconteceu.

*Miguel Ângelo de Andrade publica a coluna ‘Pelas ruas da cidade’ durante as férias de Edilson Pereira.

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