Meu amigo, o fotógrafo Ciro Valdéz está preocupado. Ele veio comentar comigo o escândalo da Petrobras. Me abordou no bebedouro da firma. A conversa estava normal. Nós dois estupefatos com o tamanho das falcatruas e com a declaração do advogado do lobista Fernando Baiano, dando conta de que “no Brasil não se faz obra pública sem propina”, e assim por diante.
Mas depois a conversa tomou um rumo esquisito. Primeiro porque Ciro Valdéz não quis encerrar a conferência quando terminei de abastecer a minha garrafa com água e me seguiu do bebedouro até a minha mesa. Ali fez uma declaração que achei no mínimo curiosa. “Este negócio da Petrobras é pinto perto do que está para estourar daqui a pouco”. Levei um susto. Ponderei com ele que o escândalo foi classificado como o maior esquema de corrupção da história do País com o desvio estimado de R$ 10 bilhões e pode ser até mais.
Ele olhou para os lados e começou a falar mais baixo, dando a entender que estava prestes a revelar um segredo. “Conversei com um general dias desses, cara graduado, com muitas estrelas. Acho que ele é mais do que general. O cargo dele parece com nome de doce”. Perguntei se não era brigadeiro. “Isso aí”, disse Ciro. Achei por bem fazer a ressalva que a citada figura não poderia ser do Exército, visto que esta patente é da Aeronáutica.
Mas Ciro insistia que ele era do Exército. Deixamos a cor da farda de lado e ele começou a despejar uma teoria da conspiração. “Eu sei te dizer que este general me disse que está em curso uma investigação que vai revelar um esquema muito maior do que o Petrolão”, disse. Eu quis saber logo qual seria essa nova e imensa desgraça que iria engolfar o país e ele disse com um riso irônico e ar de superioridade: “Amazônia”. E não disse mais nada. “Mas o que tem a Amazônia?”, indaguei.
Ciro Valdéz fez uma pausa saboreando o suspense e largou brasa: “A inteligência do Exército e da Polícia Federal estão investigando o tráfico ilegal de madeira de lei para favorecer financeiramente partidos políticos, inclusive tendo como foco as últimas eleições”. No Brasil não dá para duvidar de nada, especialmente porque desmatamento e tráfico de madeira de lei existem por acobertamento político ou por omissão. Não sei o que é pior.
Perguntei para Ciro Valdéz qual era o nome do general e ele deu dois pulos para trás. “Isso eu não posso contar. Ele pediu para ficar no anonimato. Mas está prestes a estourar. A coisa vai ser tão feia que haverá intervenção da ONU no Brasil”. Pensei comigo que de fato o descaso do Brasil com a questão ambiental, no caso específico da Amazônia, chama a atenção do mundo. Por sinal, o Brasil só passou a se debruçar sobre o problema quando começou a ser cobrado pela degradação ambiental sem freio em fóruns internacionais, entre eles o das Nações Unidas. Mas uma intervenção teria que passar pelo Conselho de Segurança do órgão e este pessoal só age quando algum país não alinhado resolve ter arma nuclear.
Mas nada disso parecia demover Ciro Valdéz. Ele estava convencido da gravidade da situação e de que seu amigo fardado sabia de tudo. “Olha, cara! Têm laboratórios de medicamentos envolvidos. Eles também fizeram doações polpudas em campanhas nas últimas eleições. E um esquema de invasão a partir das fronteiras da Bolívia e da Colômbia. Tudo isso virá à tona”, afirmava convicto.
Quis saber o que ele o amigo fardado iriam fazer com esta “nitroglicerina” pura nas mãos, afinal se isso tinha algum fundamento teria que ser levado ao conhecimento das mais altas esferas jurídicas. E Ciro não se fez de rogado. Já agia com ares de quem estava despachando no teatro de operações. “Não tem jeito. Tem que esperar que o caso se torne público porque agora não dá para comprovar nada. Mas na hora de estourar eu saberei”, disse com ar de triunfo.
Agora já era demais. Além de ser interlocutor privilegiado de um mega escândalo, Ciro também ficaria sabendo do start da operação? Perguntei por que lhe caberia esta deferência antes de milhões de brasileiros. E ele respondeu sem esconder a satisfação: “Simples! Pedi ao general que me avise porque quero ir para Brasília para fotografar tudo”. Bom, pelo menos a cobertura jornalística está garantida.