Por que as “verdades absolutas” da maternidade não funcionam?

Foto: Evelen Torrens

Eu sempre achei muito engraçada essa mania que a gente tem de achar solução para a vida dos outros. É uma deselegância sem tamanho. É sempre muito fácil olhar de fora, diagnosticar o problema e apontar as melhores soluções, mas, quando estamos envolvidos no problema, meus amigos, a situação muda completamente.

Todo mundo tem seus demônios para lidar e suas próprias noções de valores. Cada um sabe onde o seu calo aperta, mas, agora, me diga: por que diabos todo mundo vira professor quando o assunto é o filho dos outros?!

Terrible two: nosso filho fez dois anos e está na adolescência do bebê. E as birras?

Eu sou mãe do Bê e da Laura, e é muito fácil perceber que a verdade para um não é a verdade para o outro. O Bê dormia enroladinho como um charutinho até uns oito meses; ele sempre dormiu melhor assim. Já a Laurinha, desde os primeiros dias, brigava com a cobertinha que a gente usava para enrolar e não dormia se a enrolássemos.

É assim com tudo, mesmo eles tendo sido criados pelo mesmo pai, pela mesma mãe, na mesma casa, frequentam a mesma escolinha e têm apenas um ano e quatro meses de diferença. O Bê demorou uns três meses para começar a aceitar a introdução alimentar. Já a Laura come tudo o que a gente oferece desde o primeiro dia. Quando eu digo que ela briga pela comida dela não é exagero.

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Um colega descobriu que vai ser pai, e eu ouvi tantas pessoas – bem intencionadas, creio eu – enchendo-o de verdades absolutas que quase entrei em desespero. Isso me levou instantaneamente para dentro de mim mesma, nas minhas quatro primeiras gestações (para quem não sabe, eu perdi três bebês antes de engravidar do Bê). Eu lembro de entrar em desespero todas as vezes. Nunca tinha tido um bebê em casa, não fazia ideia de como seria e não conseguia assimilar tantas verdades contraditórias, muito menos me lembrar de tudo o que parecia tão importante para conseguir dar conta de ser mãe.

Teve uma passagem bem marcante. Eu estava conversando com uma pessoa e ela começou a falar várias coisas que eu não podia fazer porque, caso contrário, o bebê poderia morrer. Sim, você leu certo, foi isso mesmo. Eu lembro da sensação de desespero que senti enquanto ouvia aquilo. Pedi para ela parar de falar aquilo, mas ela realmente não conseguia parar. Olhei para a minha barriga de seis meses e naquele momento me senti incapaz de ser mãe do Bê.

Hoje, olho para mim mesma com mais carinho e sei que naquela altura eu já tinha todo o conhecimento necessário para ser mãe do meu bebê. Eu tinha muito amor, acesso à informação e a médicos e profissionais que poderiam me orientar a todo momento. Também tinha um celular em que podia fazer compras que chegariam no outro dia.

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O seu bebê não precisa do brinquedo mais caro da loja, nem de um igual ao do coleguinha mais afortunado. O seu bebê não precisa dormir enroladinho do mesmo jeito que o Bê dormiu por meses. Pode ser que ele goste de dormir igual à Laura, como uma estrela do mar. O seu bebê precisa é que você esteja disposto ou disposta a amá-lo, zelar por ele e procurar opiniões de pessoas que possam te auxiliar nesse processo.

Minha história

A primeira grande dúvida que tive foi o enxoval. Lembro de ficar super preocupada durante a gestação porque não conseguia decidir quais coisas comprar para a introdução alimentar do bebê. Eu estava grávida e, depois que ele nascesse, eu teria pelo menos mais seis meses para pensar nisso, mas já estava preocupada antes mesmo de os dedinhos dele estarem completamente formados.

Mamãe e papai, vocês não precisam comprar o mundo para o seu bebê já nas primeiras semanas de gestação. Acalmem-se.

É incrível como o instinto de querer ajudar acaba, muitas vezes, se tornando uma verdadeira pressão, né? Cada mãe e cada bebê têm necessidades tão únicas. O que funciona para um pode não funcionar para o outro.

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Mas a sociedade acha que existe uma fórmula mágica para ser mãe, quando, na verdade, o maior segredo é justamente entender que não existe uma única maneira de fazer as coisas.

Às vezes, essas “verdades absolutas” que as pessoas costumam soltar, sem perceber, acabam apenas nos desestabilizando. A pressão de ter que ser perfeito, de seguir todas as dicas de todo mundo, é um fardo. E, no fim, o que mais importa é o amor, a paciência e a disposição para aprender, mesmo quando tudo parece um caos.

Sobre o enxoval: como a gente se perde nessa questão de comprar tudo antes da hora! Parece que precisamos estar preparados para qualquer coisa, mesmo quando o bebê ainda nem chegou para nos mostrar o que realmente vai precisar.

A maternidade é um processo de autoconhecimento diário. Cada família tem seu tempo e sua forma, e o mais importante é confiar no próprio instinto.

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