O dilema de ser mãe: entre o deixar “ir” e o querer ficar

Imagem criada por IA / ChatGPT

O que é, o que é?! Precisa muito sair de casa, não vê a hora de ter tempo pra si mesma, mas, na hora de sair, quer ficar? Se você respondeu “Eu!”, você é uma mãe bem das comuns. Caso tenha respondido “Não faço ideia”, ou você não é mãe ou é um exemplar de mãe muito mais evoluído que eu.

Desde que comecei a pensar mais seriamente em ser mãe, e essa ideia passou a ser uma possibilidade real, eu lembro de falar que não queria ser dependente do meu bebê e nem que ele fosse dependente de mim. Simples assim.

Essa teoria é perfeita e se encaixa como uma luva na pessoa que me esforço para ser diariamente, mas, na prática, mesmo que eu repita isso para mim mesma há alguns anos, não é tão simples assim.

Com filhos pequenos e de folga: melhor viajar ou ficar em casa?

Eu sempre fui uma pessoa com facilidade para deixar as pessoas seguirem seus caminhos, talvez por ter mudado de escola, casa e trabalho muitas vezes. Eu tenho me esforçado para não prender meus filhos desde antes de eles existirem. Alguém me explica, então, por que c@rv@lho$ a ideia de passar as primeiras horas longe da minha filha pela primeira vez me soa tão assustadora?

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Talvez seja porque, como diria o Eduardo, a relação entre a mãe e o seu filho ou filha é visceral. Os estudiosos de comportamento infantil falam muito sobre a angústia da separação que o bebê passa nos primeiros meses, quando começa a entender que ele e a mãe são pessoas diferentes. Quando ela vai embora, ele não entende que ela vai voltar, e aquele momento parece o fim do mundinho de poucos meses dele. Se o bebê se sente assim, como a mãe se sente ao se separar, pela primeira vez, daquele ser humaninho perfeito e com aquele cheirinho inexplicável no cangote?

Não é só o bebê que sente esse distanciamento. A mãe também sente. E olha que coisa mais louca: quando o bebê vê a mãe se afastar, ele não consegue entender que ela vai voltar. Pode ser que ela só tenha ido ao banheiro ou buscar alguma coisa logo ali; eles não têm capacidade cognitiva de compreender isso… mas a mãe tem? Racionalmente, sim. Emocionalmente, acho que não.

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Deixar nossas crias por algumas horas é como deixar um pedaço de nós. O bebê é como uma extensão do nosso próprio corpo. Essa relação da mãe com o seu bebê é de uma dependência inexplicável e vai muito além do emocional. É uma relação completamente visceral.

Mas, por mais difícil que seja, a gente precisa ir. Mesmo querendo ficar, mesmo com um pouco de medo e mesmo sabendo que ninguém vai cuidar dos nossos filhos do jeito que a gente cuida. A gente precisa ir porque nossos filhos têm o direito e a obrigação de viver a própria vida, e isso começa assim. Eles vão ficar bem sem a gente, e isso é de uma importância gigantesca para o crescimento e a compreensão do mundo deles, mas, principalmente, para o re-conhecimento que muitas vezes a gente precisa depois de se deixar tanto para gerar e cuidar desse pedacinho da gente.

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Como diria minha sábia mãe: “A gente cria filho é pro mundo”. Vou tentar lembrar disso amanhã cedo, quando eu sair pra trabalhar.

E da próxima vez que eu sair de casa, vou levar uma lição comigo: o bebê pode sobreviver umas horas sem mim… mas se eu vou sobreviver umas horas sem ele, isso já é outra história.

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