“Desculpa, o que você disse?” A maternidade e a incapacidade de fazer coisas normais

Foto: Arquivo Pessoal

Dia desses, fui tomar café com uma amiga que não tem filhos. Uma daquelas minhas tentativas de reviver momentos de antes da maternidade. O café era bonito, o ambiente tranquilo, e a conversa prometia ser boa. Ela começou a contar sobre o novo trabalho, e eu estava realmente interessada. Mas, em menos de cinco minutos, percebi que não conseguia acompanhar o que ela dizia.

Minha cabeça estava um caos.

A cada frase que ela falava, meu cérebro interrompia com pensamentos automáticos: “O leite da Laura está acabando.” “Preciso marcar a próxima vacina.” “Será que mandei o lanche do Bernardo?” E, quando percebi, já tinha perdido metade da conversa.

Curso para mães, pais e bebês; fazer ou não fazer, eis a questão

Se eu tento assistir algo na TV, levo três dias para terminar. No trabalho, às vezes tento me concentrar, mas meu cérebro insiste em rodar uma checklist infinita das coisas que preciso resolver.

A maternidade bagunçou minha mente de um jeito que eu nem sei mais o que é ter uma conversa calma e com atenção. O cérebro em estado de alerta permanente.

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Essa é uma daquelas coisas sobre ser mãe que ninguém conta. Nosso cérebro nunca mais descansa. Ele está sempre pronto para detectar um choro, um “mamãe!” gritado do nada, um silêncio suspeito que pode significar arte ou – pior – aquele barulho seco que a gente já sabe que foi uma cabeça batendo em algum lugar.

Perco as contas de quantas vezes digo: “Hã? O quê? Desculpa, não ouvi.” Porque, de verdade, eu não ouvi. Não é falta de interesse. Não é desatenção. Minha mente virou uma central de gerenciamento de emergências 24/7, e desligar isso parece impossível.

Saudade da minha própria mente

Tem dias em que sinto falta de quando minha cabeça era só minha. De quando eu conseguia ler um livro sem precisar reler a mesma página três vezes. De quando eu conseguia ouvir alguém falar do começo ao fim sem precisar lutar contra o impulso de mentalmente fazer a lista do mercado.

+ Leia mais: Por que as “verdades absolutas” da maternidade não funcionam?

Mas aí vem a parte maluca: se um dia eu acordo e a casa está silenciosa, sinto falta do caos. Todo dia, quando chega a hora de buscar as crianças na escola, já começo a sentir saudade. Porque, no fundo, minha mente pode estar sempre cheia, mas meu coração também está.

O amor que bagunça tudo e dá sentido a tudo

Ser mãe é entregar mais de si do que parece humanamente possível – e, em troca, receber coisas que, de fora, podem parecer pequenas, mas que nos completam de um jeito assustador.

Nada no mundo é mais importante do que as risadas durante as brincadeiras. É tanto amor que às vezes dá vontade de apertar, morder e beijar sem parar.

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A maternidade é caótica, exaustiva e, ao mesmo tempo, a coisa mais incrível do mundo.

Ser mãe às vezes é sobre doar mais de si do que antes parecia ser humanamente possível e receber em troca coisas que podem parecer tão bobas mas que nos completam e nos preenchem plenamente.

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