Chegou a hora de pararmos de normalizar a figura do pai ausente

Imagem gerada por IA / ChatGPT

Quando o Bernardo tinha os seus poucos meses de vida, recebi a visita de uma grande amiga que gosta muito de criança e, tenho certeza, caiu no charme do Bê. Lembro que ela perguntou como nós estávamos e com as melhores intenções – habituada à nossa sociedade nada gentil com as mães -, logo se ofereceu para ajudar.

Ela disse que poderia vi e, ficar com o bebê para que eu pudesse fazer alguma em casa ou até cuidar de mim, tomar um banho sem pressa e lavar o cabelo.

Agradeci a gentileza e disse que estava tudo bem. Confesso que na hora eu não entendi exatamente o que ela queria dizer com isso e a vida seguiu.

/// Corta para um ano depois.

Em outra visita dessa mesma amiga, o Bê já estava com um ano e meio e a Laura tinha acabado de chegar (fazia dois meses e não parava de chorar). Quando ela chegou, mal entrou em casa e eu já soltei um “segura essa menina rapidinho que eu vou brincar com o outro”.

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Depois fiquei pensando e me senti super esperta, certa de que finalmente eu tinha entendido o que ela queria dizer naquela primeira visita.

Inocência minha.

/// Corta para algumas semanas depois.

Conversando com outra amiga, numa daquelas conversar de mão única (em que ela fala e a gente só escuta), ela me contou que o pai do filho dela, nos cinco anos de vida do piá, não tinha levantado cinco vezes que fosse de madrugada para ajudar a cuidar do filho.

Meu cérebro ignorou a informação e seguiu a vida.

/// Corta para alguns minutos depois.

Indo pra casa eu finalmente percebi que era sobre isso que a minha amiga falava há pouco mais de um ano. É com pais assim que estamos acostumados a conviver.

O filho dessa segunda amiga tem cinco anos, ou seja, já teve mais de 1800 noites de sono e o cara não levantou CINCO vezes para ajudar a cuidar do próprio filho? Eu não vou fazer essa conta, mas não dá 0,5% das noites.

Eu costumo falar que criar um filho é tarefa pra dois adultos, mas recentemente descobri que dois adultos (e uma escolinha pro mais velho) também criam duas crianças. Tudo funciona tão bem quando os dois adultos se comprometem a cuidar do próprio filho.

Unhas feitas, cabelo limpo, leitura em dia, MBA progredindo, pouca louça na pia, muita roupa lavada, duas crianças dormindo em seus devidos berços, papai dormindo desde 23h e a mamãe escrevendo esse texto no começo da madrugada.

Hoje eu troquei fralda da Laura e o pai dela também.

Hoje eu dei banho no Bê e pai deu banho na Laura.

Hoje eu dei comida pro Bê e o pai levou e buscou ele na escola.

Hoje eu cuidei da Laura de madrugada e o pai dela também.

Hoje eu dormi razoavelmente bem e o pai deles também.

Hoje eu fui mãe dos nossos filhos e o Eduardo foi pai dos nossos filhos também.

A maternidade só pesa para um lado, quando o outro se ausenta. Tirando a amamentação, todas as demais tarefas precisam ser divididas em nome da sanidade mental, especialmente da mãe. Temos que parar de normalizar o pai que não faz nada e apenas assiste a uma mãe criando os seus filhos.

Ps: hoje eu alimentei a Laura, mas o pai dela não, afinal os tetês dele não servem pra nada 🙂

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