Eu sempre quis escrever esse texto, mas sempre me faltou um pouco de coragem. Decidi falar sobre ser mãe sem ter mais a minha mãe. Dia 17 de novembro é aniversário dela, mas há 10 anos ela não está mais aqui para comemorar comigo.
Eu sempre quis construir uma família e, com isso, sempre me “pré-ocupei” e sofri por antecipação ao saber que ela não estaria aqui. Minha mãe sempre foi a pessoa mais importante da minha vida. Eu imaginava que, se um dia me casasse, seria muito triste não tê-la na cerimônia, e decidi que não faria uma festa de casamento. Sempre achei que ter uma família também seria muito triste sem ela por perto.
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Não deixa de ser, mas…
Há uns anos, fizemos uma festa de casamento. Senti sua falta, mas havia tanta gente feliz por nós que, no final das contas, foi um dia só de alegria e felicidade. Você teria se divertido.
O seu genro parece até que te conheceu, de tanto que já falei de você. Ele fala de você com carinho e admiração. Você teria gostado tanto dele.
A primeira mamadeira: grandes transformações na vida de uma mãe
Mas a parte mais importante desse texto são as crianças. O Bê parece muito mais seu neto do que meu filho, às vezes. Ele tem um jeito delicado e atencioso, gosta de livros e tem a coordenação motora fina digna de ser seu neto. Já a Laura parece muito mais minha filha — para o seu deleite e para o meu desespero.
Lembra quando você dizia que eu dava nó até em pingo d’água? Tenho certeza de que ainda vou falar muito isso para ela um dia. Ela é geniosa e precoce. Em seis meses, ela me ensinou tanto sobre você. Hoje, entendo muito do que você falava a meu respeito e o porquê de você ter sido a mãe que foi para mim.
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Eu me preocupava tanto com a ideia de ter uma família sem você aqui, mas, mãe, você não sabe o quanto de você tem em nós. A gente acredita que gentileza pode mudar o mundo — isso eu aprendi com você. O Eduardo disse que te daria um livro cheio de palavras criadas, versão luxo e com muitas páginas, de presente de aniversário. Se isso não é “te conhecer”, não sei o que mais pode ser.
Esses dias, sem querer eu falei “filhos: melhor não tê-los mas como sabê-lo se não tê-los?!” E lembro também que você falava que ser mãe é padecer no paraíso e pela primeira vez eu entendi o que a senhora queria dizer. É impressionante como agora consigo entender muitas coisas que você me ensinou. A propósito, o Eduardo aprendeu a fazer creme de milho, fica quase igual o que a senhora fazia mas ele ainda não sabe que tem que colocar na travessa de inox pra criar a casquinha, ainda estamos trabalhando nisso. Nós transformamos a sua ausência em uma presença constante nas nossas vidas, sua história continua viva em tudo o que construímos por aqui.
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Inclusive, a gente fala que as crianças tem rouparoupas de ficar em casa, de dormir e de netos da Dona Marilene… que são aquelas especiais, mais lindas.
Eu queria que você pudesse ler este texto e todos os outros que já escrevi por aqui. Quase consigo ouvir o seu orgulho ao contar que sua filha escreve para o jornal. Você também acharia o máximo, não é?
Eu sempre achei tão estranho a forma como lidamos mal com as perdas que sofremos ao longo da vida. E sempre imaginei que, sendo mãe, lidar com o fato de ter perdido você seria ainda mais doloroso. Mas, mãe, deixa eu te contar uma coisa: pela primeira vez em 10 anos, 5 meses e 14 dias, eu lembro de você e me sinto só feliz e grata pelo exemplo de ser humano e de mãe que tive.
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Pode até ser clichê, mas, se um dia meus filhos sentirem orgulho de mim como eu sinto de você, eu zerei a vida.
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